quinta-feira, 24 de março de 2016

O TEMPO PASCAL E AS PERGUNTAS QUE RESSUSCITAM





Caríssimos Cristãos! 


Sei que milhares, milhões de vocês estiveram pelas ruas nas ultimas semanas, não era missa ou culto de domingo muito menos via sacra de semana. Mas vocês falam em caminho do calvário, mas não pode percorrer o caminho do calvário aqueles que libertam Barrabás, que julgam inocentes e protegem condenados - embora o espetáculo do terror e da ignorância é o que os satisfaz. 

Então se aos cristãos de ocasião chegou o tempo da reflexão, elenquei para reflexão da palavra no dia de hoje as questões que seguem abaixo: 

1. E a lista de Furnas, foi para o forno e não volta mais???

2. Em que prisão esta o acusado de construir dois aeroportos em Minas Gerais com dinheiro público para uso particular?

3. Em que cadeia está os acusados de milhões em corrupção nas linhas do metrô em São Paulo?

4. Em que cadeia está o sociólogo que passou para iniciativa privada uma das maiores mineradoras do mundo?

5. Em que cadeia esta o Fernandinho HC que recebeu milhões de propina em consócio com a Alston para concessão exclusiva de máquinas para Hidrelétrica de Itá/SC

6. Em que cadeia está o Juiz que apreendeu bens do empresário Eike Batista e se apossou do dinheiro e usava o carro do condenado?

7. Em que prisão esta o Juiz que quebrou sem autorização o sigilo da presidente da república?

8. Em que prisão esta o 'Japonês da Federal' preso na Operação Sucuri acusado de fatura milhões em contrabando na fronteira em 2003?

9. Em que universidade estudou o Promotor xadrezinho que ressuscitou o filósofo Hegel, matou o filósofo Engels e estuprou a história?

10.

╬ ╬ ╬   EM QUE PÁSCOA RESSUSCITARÁ A VERDADE E ÉTICA?   ╬ ╬ ╬

******  Quem terminar a prova primeiro esta liberado para o feriadão. 
******

Bom passeio, ... não consuma muito alcool, ... não esculte som alto, ... não bata panela sem precisão, ... não fale besteira sem ocasião e reze/ore/implore para melhor entender: se essa sua falsa razão ainda não te envergonhou quando com as perguntas acima você se defrontou!


Neuri A. Alves - Professor, Pesquisador e Assessor de Formação e Educação Popular



quarta-feira, 23 de março de 2016

Dentro da sexta-feira santa política um vislumbre de ressurreição


''Foi refletindo sobre o significado profundo da sexta-feira santa que o jovem estudante de teologia e depois um dos maiores filósofos da história F. Hegel tirou a sua famosa chave de leitura da história e da vida humana: a dialética.''


Vivemos politicamente no país uma situação de sexta-feira da paixão: há ódio, dilaceração das relações sociais, riscos de ruptura da ordem democrática e de passagem de uma democracia do direito e das leis para uma democracia da direita e sem leis. Há sinais inequívocos de que este cenário não seja impossível.

É neste contexto que celebramos a festa maior do cristianismo, a páscoa. Ela significa em hebraico, a “passagem” do cativeiro egípcio para a liberdade da terra prometida; metaforicamente, passagem dos turbilhões de uma crise para a paz serena de um Estado democrático de direito.

Foi refletindo sobre o significado profundo da sexta-feira santa que o jovem estudante de teologia e depois um dos maiores filósofos da história F. Hegel tirou a sua famosa chave de leitura da história e da vida humana: a dialética. Ele via realizada na saga de Jesus a realização destes três passos: vida-morte-ressurreição.

A vida é a tese da positividade. A morte é a antítese da negatividade. A ressurreição é a síntese que incorpora a tese e a antítese numa síntese superior. A ressurreição é mais que a reanimação de um cadáver, como o de Lázaro, pois significaria a volta à vida anterior. A ressurreição é a introdução de algo novo, nascido das afirmações e contradições do passado. Esse “insight” sempre lembrado por ele, foi chamado de a “sexta-feira santa teórica”.

Se bem reparamos, a semana santa, para além de seu caráter religioso, representa um paradigma do processo histórico e da própria evolução. Tudo no universo, nos processos biológicos, humanos e biográficos se estrutura na forma da dialética. O primeiro momento é a tranquila serenidade e paz infinita daquele pontozinho quase infinito de onde viemos (tese). De repente, sem sabermos por quê, ele explode. Produz um incomensurável caos(antítese). A evolução do universo significa um processo de criar ordens cada vez mais altas e complexas que culminam com a emergência do espírito e da consciência (síntese).

Dentro desta síntese, transformada agora em nova tese, carrega sua antítese que desemboca numa nova síntese mais fecunda. E assim corre o devenir da história do universo, das sociedades e de cada pessoa.

Concretizando para a nossa situação atual. O Brasil entrou num processo de crise, cujas causas não cabe aqui referir. De uma situação tranquila( tese) entrou em processo de caos (antítse). Deste caos deve irromper uma nova ordem que possa dar horizonte e esperança ao país (síntese). Precisa-se definir novas estrelas-guia que nos orientem face à crise atual. A crise tem a função de acrisolar, purificar e tornar a todos mais maduros.

A questão toda se resume: quem possui a proposta político-social que supere a crise e crie uma convivência minimamente pacífica? Não será através de fórmulas já testadas e gastas que virá a superação da crise dando centralidade a políticas e a grupos de poder à custa do sacrifício da maioria da população.

Promissora é aquela que realiza para o maior número possível de pessoas um bem-estar mínimo, que lhe garanta trabalho, uma moradia modesta mas digna e lhe crie possibilidades de desenvolvimento e crescimento através da saúde e da educação sustentáveis. Em todo esse processo dialético há a experiência de vida, de morte e de transfiguração; de ordem, desordem e nova ordem; de tese, antítese e síntese. A complexidade segundo E. Morin se estrutura nesta dialética que é a da semente: ”se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, ficará só, mas se morrer, produzirá muito fruto”, como disse o Mestre.

Hoje a natureza, a humanidade e nossa sociedade vivem sob pesada sexta-feira santa ameaçadora.

A nossa esperança é que este padecimento se ordene a uma radiante transformação. O corrupto seja punido e o que politicamente se fez errado seja corrigido. Importa definir um rumo que de certa forma já foi apontado. Se o rumo estiver certo, o caminho pode conhecer subidas e descidas mas ele nos leva ao destino certo: a uma nova ordem de convivência onde não seja tão difícil tratarmos a natureza com compaixão e nossos próximos com humanidade e com cuidado.

Leonardo Boff - Filósofo, teólogo e escritor.


segunda-feira, 21 de março de 2016

O HERÓI ANÔNIMO QUE SALVOU LULA DE MORO EM CONGONHAS.


Por Cavalcati da Gameleira

''(...)  o Coronel pode ter abortado, naquele momento, o golpe em curso contra a Liberdade e a Soberania brasileira. Foi o ato de um patriota.''

Foto: Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho - Capitão Sergio Macaco
O cenário estava todo montado para a condução coercitiva do ex-presidente Lula. Ao melhor estilo OBAN, efetuou-se o sequestro ao final da madrugada; “Nacht Und Nebel” – Noite e Nevoeiro: esse era o dístico dos “Einsatzgruppen” das SS nazistas, quando saíam a cumprir a sua nefanda missão de eliminar adversários políticos protegidos pelo breu das horas mortas.

Cenário midiático, bem entendido; talhado sob medida para expor à execração pública o homem que resgatou a autoestima do Brasil e de seu povo. Avisadas com antecedência, equipes de profissionais dos principais meios de comunicação do país, articulados com setores golpistas enquistados no aparelho de Estado, já estavam a postos em São Bernardo do Campo. Lá se iniciaria o Auto de Fé, com o herege impenitente sendo conduzido na carroça, digo, camburão, até o aeroporto de Congonhas. Lá o aguardavam outras equipes dos orgãos de imprensa, para os quais vazaram, convenientemente, informações privilegiadas que davam conta da prisão iminente do mito.

Escolta-se a Esperança para a sala VIP do aeroporto, transmutada em dependência da Polícia Federal. Inicia-se lá o interrogatório do D. Sebastião dos pobres, do redentor da Pátria humilhada. No hangar ao lado, um jatinho esperava para conduzi-lo à República de Curitiba, onde se daria o “grand finale”: sob o espocar de fogos de artifício, disparados por incendiários notórios da República, o sentenciado vestiria o sambenito e a Nação, ofuscada pelo brilho dos “flashs”, o veria ser tragado para os porões sombrios da Guantánamo meridional. Sua imagem política, esquartejada e salgada, seria declarada infame por várias gerações; sua “raça” exterminada. Solução Final.

Mitos, porém, conservam como característica uma extraordinária capacidade de conservação; são por assim dizer indestrutíveis, pois estão enraizados no inconsciente coletivo de toda uma população. O que a República do Galeão não conseguiu fazer com Getúlio Vargas em 1954, a República de Curitiba – temporariamente sediada em Congonhas – também não lograria alcançar com Lula em 2016. Ambos encarnam as Forças Vivas da Nacionalidade; nos momentos de maior perigo para o Brasil, elas são conjuradas e se manifestam na emergência de um Herói Providencial, expressão menos de um voluntarismo individual do que de uma vontade coletiva assumida por uma personalidade singular.

A história sem dúvida tende a se repetir, nem sempre como tragédia ou farsa – como pensava Marx – mas principalmente pela revelação de Ciclos Criativos. A mesma Aeronática, que patrocinou a aventura golpista da República do Galeão, seria redimida posteriormente pela eclosão, dentro de seu núcleo institucional, de dois dos principais Heróis Providenciais do Brasil Contemporâneo, um e outro interpretes de um anseio coletivo mais profundo de fazer do Brasil uma Pátria verdadeiramente livre e soberana. Um deles foi o Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco. O outro seria aquele enérgico Coronel de Congonhas cujo nome ainda não veio à lume e que, segundo consta, impediu à frente de um pelotão armado que Lula fosse embarcado no jatinho para Curitiba.

Claro que se trata de duas situações de ordem de grandeza muito diferentes. Em 1968 o Capitão Sérgio recusou-se a cumprir ordens do Brigadeiro João Paulo Moreira Burnier – então Chefe de Gabinete do Ministro da Aeronáutica – no sentido de que fosse o PARASAR, uma unidade de elite da FAB , utilizada na consumação de atentados terroristas. O principal deles previa a explosão do Gasômetro do Rio na hora do “rush”, vitimando cerca de 100 mil pessoas. Sérgio Macaco viu sua carreira militar destruída e sofreu perseguições ao longo de sua vida, encerrada precocemente em 1994. Morreu como um herói ético; evitou um horror que mancharia para sempre a memória brasileira: muito teríamos de purgar até ressignificá-la.

O obscuro Coronel de Congonhas, sem nome conhecido – ainda -, não se destacou por épica intervenção que, a exemplo daquela do Capitão Sérgio, salvaria milhares de seres humanos da morte. Seu papel – a se confirmarem as versões de que dispomos – se limitou a resgatar de um sequestro jurídico-midiático um ex-presidente do qual, sequer, consta que tivesse a sua vida ameaçada. Nem por isso a atitude daquele oficial superior se reveste de menor heroicidade.

Com a sua oportuna intervenção – e a despeito de suas motivações íntimas para tal ato, que desconhecemos – o Coronel pode ter abortado, naquele momento, o golpe em curso contra a Liberdade e a Soberania brasileira. Foi o ato de um patriota.

Deu uma sobrevida fundamental a Lula e ao projeto de Nação a que se filiam todos os nacionalistas e desenvolvimentistas desse país. O combate ainda não chegou ao fim, e o exemplo daqueles dois heróis da FAB nos fala a respeito do imperativo ético de resistirmos ao golpe, sob pena de vermos o prometido País do Futuro enxovalhado aos olhos do mundo. Tal não ocorrerá; o Brasil é muito maior do que aqueles que pretendem inviabilizá-lo. Nossa Alma Coletiva vela por nós.


Cavalcanti da Gameleira, autor do texto é historiador.

UM MINUTO CONTIGO NO CONFESSIONÁRIO IRMÃO MAIOR

No ato dos movimentos sociais na ultima sexta feira em Chapecó senti a falta de meu irmão maior, ex confrade na Congregação dos Padres Combonianos Dom Odelir bispo dessa diocese. Me perdoe caso cometa injustiças e pré-juízos, mas não me preocupa o pecado dos excessos e sim das ausências.

Sei bem que São Daniel Comboni (fundador dos Combonianos) em seus ensinamentos orienta que sejamos 'pedra escondida', ajudar sem aparecer. Mas a história mostra para além das exegese doutrinária que Jesus não teve medo de tomar posição, pois era homem de convicção profunda: sabia o que fazia, porque fazia e assumiu as consequências até o fim.


Atravessamos um momento no país que precisamos ser pedras que falam como diz o evangelho quando tentam calar as vozes que denunciam e combatem as injustiças. Precisamos ser palavras firmes frente a realidades como essa onde a injustiça empurra nossa porta e como ovelhas obedientes e acuados 'bom pastores' apenas abrimos as portas para que ela possa entrar, saquear tudo o que é nosso, violentar esperanças.

O atual papa Francisco também tem assumido abertamente a defesa das classes excluídas e ameaçadas com discurso forte de combate as injustiças e atentado as democracias dentro do parlamento sanguinário norte americano, Bispos no Brasil tem assumido abertamente a defesa da democracia nesse momento. E por aqui estaria faltando o que então: profetismo???

Não espere irmão maior que sua função missionário seja transformada em mera casa de acolhida, que a sua cúria venha ser embaixada para acolher perseguidos políticos amanhã. O ressuscitado não morreu primeiro na cruz, morreu sim na negação de quem lhes dizia amar e seguir, morreu ante displicência de Pilatos, morreu ante a ignorância da turbamulta que inocentou Barrabás e culminou na humilhação final de soldados a serviço do estado - da pior forma possível.

Este irmão 'menor', pecador 'maior', curioso do mundo, filho das lutas dessa terra, semente das convicções profundas que amadurecem incessantemente na grande arvore de Dom José. Eu, ex 'pedra escondida' que rompe a terra que o esconde, que deseja ver a justiça como bem maior e não as vontades de uma elite local que come a hóstia na celebração do domingo, mas bebe o sangue dos trabalhadores e subalterno após o ide em paz dominical. 

Receba estas palavras sem o menosprezo da hierarquia, mas humildade dos que assumem a missão da coragem e do amor. Não as receba como criticas vazias com profanas constatações, pois se o evangelho não estiver a serviço da justiça e da vida ele escolheu o caminho da exclusão, da negação dos princípios, das pedras que se calam ante o silêncio dos profetas - uma igreja assim é uma igreja morta. A igreja latino americana não nasceu para morrer, mas para libertar, assumindo o lado dos pobres e perseguidos. 

A hora é de escolher o lado ou assumir por que não. Nenhuma liberdade resiste ao golpe dos que atacam, ameaçam e usurpam com a conivência dos que pode fazer o contraponto, mas se calam e se fecham. Se você lá estava 'IRMÃO MAIOR' perdoe a petulância  deste pecador irmão menor. 

Neuri A. Alves - Professor, Pesquisador e Assessor de Formação e Educação Popular


domingo, 20 de março de 2016

QUATRO SOMBRAS AFLIGEM A REALIDADE BRASILEIRA.

''Elas pesam enormemente e vêm à tona em tempos de crise como agora, manifestando-se como ódio, raiva, intolerância e violência simbólica e real contra opositores.''

Em momentos de crise, assomam quatro sombras que estigmatizam nossa história cujos efeitos perduram até hoje.

A primeira sombra é nosso passado colonial. Todo processo
colonialista é violento. Implica invadir terras, submeter os povos, obriga-los a falar a língua do invasor, assumir as formas políticas do outro e submeter-se totalmente a ele. A consequência no inconsciente coletivo do povo dominado: sempre baixar a cabeça e levado a pensar que somente o que é estrangeiro é bom.

A segunda sombra foi o genocídio indígena. Eram mais de 4 milhões. Os massacres de Mem de Sá em 31 de maio de 1580 que liquidou com os Tupiniquim da Capitania de Ilhéus e pior ainda, a guerra declarada oficialmente por D.João VI em 13 de maio de 1808 que dizimou os Botocudos (Krenak) no vale do Rio Doce manchará para sempre a memória nacional. Consequência: temos dificuldade de conviver com o diferente, entendendo-o como desigual. O índio não é ainda considerado plenamente “gente”, por isso suas terras são tomados, muitos são assassinados e para não morrerem, se suicidam. Há uma tradição de intolerância e negação do outro.

A terceira sombra, a mais nefasta de todas, foi o escravidão. Entre 4-5 milhões foram trazidos de África como “peças” a serem negociadas no mercado para servirem nos engenhos ou nas cidades como escravos. Negamos-lhes humanidade e seus lamentos sob a chibata chegam ainda hoje ao céu. Criou-se a instituição da Casa Grande e da Senzala. Gilberto Freyre deixou claro que não se trata apenas de uma formação social patriarcal, mas de uma estrutura mental que penetrou nos comportamentos das classes senhoriais e depois dominantes. Consequência: não precisamos respeitar o outro; ela está aí para nos servir. Se lhe pagamos salario é caridade e não direito. Predominou o autoritarismo; o privilégio substitui o direito e criou-se um estado para servir os interesses dos poderosos e não ao bem de todos e uma complicada burocracia que afasta o povo.

Raymundo Faoro (Os donos do poder) e o historiador e acadêmico José Honório Rodrigues (Conciliação e reforma no Brasil ) nos têm narrado a violência com que o povo foi tratado para estabelecer o estado nacional, fruto da conciliação entre as classes opulentas sempre com a exclusão intencionada do povo. Assim surgiu uma nação profundamente dividida entre poucos ricos e grandes maiorias pobres, um dos países mais desiguais do mundo, o que significa, um país violento e cheio de injustiças sociais.

Uma sociedade montada sobre a injustiça social nunca criará uma coesão interna que lhe permitirá um salto rumo a formas mais civilizadas de convivência. Aqui imperou sempre um capitalismo selvagem que nunca conseguiu ser civilizado. Mas depois de muitas dificuldades e derrotas, conseguiu-se um avanço: a irrupção de todo tipo de movimentos sociais que se articularam entre si. Nasceu uma força social poderosa que desembocou numa força político-partidária. O Partido dos Trabalhadores e outros afins, nasceram deste esforço titânico, sempre vigiados, satanizados, perseguidos e alguns presos e mortos.

A coligação de partidos hegemonizados pelo PT conseguiu chegar ao poder central. Fez-se o que nunca foi pensado e feito antes: conferir centralidade ao pobre e ao marginalizado. Em função deles se organizaram, como cunhas no sistema dominante, políticas sociais que permitiram a milhões saírem da miséria e terem os benefícios mínimos da cidadania e da dignidade.

Mas uma quarta sombra obnubila uma realidade que parecia tão promissora: a corrupção. Corrupção sempre houve entre nós em todas as esferas. Negá-lo seria hipocrisia. Basta lembrar os discursos contundentes e memoráveis de Ruy Barbosa no Parlamento. Setores importantes do PT deixaram-se morder pela mosca azul do poder e se corromperam. Isso jamais poderia ter acontecido, dado os propósitos iniciais do partido. Devem ser julgados e punidos.

A justiça focou-se quase só neles e mostrou-se muitas vezes parcial e com clara vontade persecutória. Os vazamentos ilegais, permitidos pelo juiz Sérgio Moro, forneceram munição à imprensa oposicionista e aos grupos que sempre dominaram a cena política e que agora querem voltar ao poder com um projeto velhista, neoliberal e insensível à injustiça social. Estes conseguiram mobilizar multidões, conclamando o impedimento da Presidenta Dilma, mesmo sem suficiente fundamento legal como afirmam notáveis juristas. Mas o PT respondeu à altura.

As quatro sombras recobrem a nossa realidade social e dificultam uma síntese integradora. Elas pesam enormemente e vêm à tona em tempos de crise como agora, manifestando-se como ódio, raiva, intolerância e violência simbólica e real contra opositores. Temos que integrar essa sombra, como diria C.G.Jung, para que a dimensão de luz possa predominar e liberar nosso caminho de obstáculos.

Nunca fui filiado ao PT. Mas apesar de seus erros, a causa que defende será sempre válida: fazer uma política integradora dos excluídos e humanizar nossas relações sociais para tornar a nossa sociedade menos malvada.


Leonardo Boff é colunista do JB on line e escreveu Os direitos do corção. Paulus 2016.