sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

COMO SEMPRE, A APARÊNCIA DOS PROBLEMAS.

''A queda da taxa de juros ainda é um sonho distante enquanto a inflação não chegar ao centro da meta.''

Prof. Elias Jabbour
Estão apostando em uma rodada de aumento da taxa básica SELIC. A funcionalidade deste instrumento no combate à inflação é tema de discussão. O que é bom, evidente. A questão, como sempre aqui no Brasil, é que insistimos em nos contentar com a aparência do fenômeno – ainda mais se essa aparência for motivo de análise por parte de algum “grande intelectual”. Não se percebe que nos atuais marcos da estratégia consagrada na década de 1990 — os dois preços básicos da economia devem combinar ou se revezar ao objetivo mater — a estabilidade monetária, não ao desenvolvimento.

A taxa de câmbio no atual patamar é ótima à recuperação de espaços da nossa indústria, reverte déficits em nossas contas correntes. Por outro lado, num país onde a indústria foi solapada, a inflação é inevitável. Nos acostumamos a importar de tudo, inclusive o preço do crescimento expandido pelo consumo foi mais desindustrialização com a taxa de câmbio chegando no final de 2010 tendo um dólar valendo em torno de R$ 1,50. Ou seja, em nenhum momento a estratégia estabilizatória foi abandonada. E sim, fortalecida e transformada em política oficial de Estado.

Com exceção do ano de 2012 onde se exacerbou outro vício brasileiro: tomar a solução dos problemas partindo de pressupostos teóricos errados, fruto da fusão entre a visão de mundo das duas principais correntes do pensamento econômico brasileiro – monetaristas e estruturalistas: (“a inflação é de demanda”; “a oferta de bens agrícolas é inelástica”; “O problema é a taxa de juros”; “o problema é o câmbio”; “o problema é a desigualdade”; “o Brasil é um atraso”; “tudo é estagnação”). Sem falar da máxima socialdemocrata que se repete como uma quintessência: “crescimento e desenvolvimento não são a mesma coisa”. No fundo quase todos creem na “estabilidade monetária” como algo essencial, uma conquista!

O que fica desta combinação entre altas taxas de juros e câmbio desvalorizado? Fenômeno quase novo. Creio que significa a junção entre maior competitividade industrial, porém com um sistema nacional de financiamento da produção no rumo de um colapso iminente. Nossas empresas continuarão a se financiar em moeda estrangeira, jogando peso considerável contra a nossa soberania. A queda da taxa de juros ainda é um sonho distante enquanto a inflação não chegar ao centro da meta. E deverá chegar tamanha a violência sobre a demanda em curso.

Ao menos um espaço fiscal no horizonte capaz de reordenar os investimentos sociais ao mesmo nível de 2014. As frestas políticas existem e observo duas, já expostas em artigo anterior: o saco cheio dos nossos amigos da ABIMAQ e as possibilidades abertas pelo Novo Banco de Desenvolvimento. Bons princípios ao acúmulo de forças. Não suficiente, se as premissas que norteiam nosso país não mudarem. Refiro-me ao debate de ideias.

Grande política não se faz com grandes ideias. Grandes ideias não surgem sem criatividade. Ambas as coisas estão completamente ausentes do debate econômico brasileiro. Debate este que nunca esteve num nível tão baixo e assustador. Parece que estamos sempre em busca de algum “grande intelectual” falar algo com sentido para daí desafogarmos nossa ânsia por alguma verdade que nos conforte. A questão da taxa de câmbio como a atual deus ex machina do debate é o maior exemplo disso, independente de se deixar de lado a taxa de juros e – independente, também – da análise compartilhada, aquela não toma o desenvolvimento como expressão da combinação virtuosa entre os aludidos dois preços básicos da economia. Lembro-me que uns anos atrás falava-se da taxa de juros e esquecia-se o câmbio. E assim caminhamos.

No alto da insignificância de um professor universitário continuarei a afirmar que a estabilidade monetária não é pressuposto para nada, que o problema não é macroeconômico e sim de institucionalidades, que mesmo com juros em patamares internacionais o crescimento dificilmente virá (fruto dessas institucionalidades criadas na década de 1990), que nosso país está condenado a ajustes fiscais e reformas da previdência cíclicas. Um dia, quando tudo for tentado, quem sabe aparecerá algum grande intelectual progressista para colocar o debate em seus devidos termos sem precisar pagar o “dinheiro de caronte”, assinando recibo das “conquistas” pós-Plano Real. Só não vale falar que os preços dos alimentos — e sua alta – é fruto da relação entre oferta e demanda e da seca que assola grandes regiões produtoras (o ano de 2015 fechou com safra recorde de grãos: 209,5 milhões de toneladas…). E o preço dos produtos da cesta básica não para de subir.

Elias Jabbour, Professor, Doutor de Economia na UERJ. Um dos grandes estudiosos sobre Economia e Mercado Chinês.