sábado, 15 de agosto de 2015

OS EXPLICADORES DO BRASIL.

Eduardo Hoornaert é um conhecido historiador da Igreja e da história do Brasil na perspectiva das vítimas. É belga e vive no Brasil praticamente toda a sua vida, trabalhando e pesquisando no Nordeste. Interessa-se especialmente pela cultura popular e por sua sabedoria. Publicamos aqui este texto que nos ajuda a refletir e nos tornar críticos face às pressões político-ideológicas dominantes no atual momento. LBoff

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No momento pipocam por toda parte explicações da situação atual no Brasil, principalmente na Internet, mas também na rádio, na TV e nos jornais. Enumero algumas:

– O Brasil está em crise. Nos grandes meios de comunicação, essa afirmação é hoje um postulado. Mas não se explica o que se entende por ‘crise’. Em 1939, quando eu tinha 9 anos, o país em que nasci estava em ‘crise’: as pessoas estocavam alimentos e todos sentiam que a guerra se aproximava. Isso era crise. Neste momento, no Brasil, os preços aumentam, o consumo diminui, mas será que isso é crise? O fato de alguns deixarem de viajar a Orlando com a família porque o dólar está alto é sinal de crise? É o que se diz na TV. Minha impressão é que os grandes meios de comunicação têm interesse em falar em ‘crise’.

– Vivemos numa democracia. O termo ‘democracia’ virou uma palavra sagrada, intocável. Mas o que dizer de um país de 200 milhões de habitantes, em cima dos quais os porta-vozes de uma só família, os filhos de um bem-sucedido jornalista do Rio de Janeiro que criou uma rede de meios de comunicação, pronunciam a cada dia oráculos que passam por verdades eternas, praticamente nunca contestadas? Isso é democracia? Há muitos outros exemplos que mostram que a palavra ‘democracia’ não corresponde ao que está efetivamente acontecendo.

– A economia é uma ciência. A indicação, pela presidenta Dilma, de Joaquim Levy como ministro da Economia, é interpretada por muitos como escolha de alguém formado em ‘ciência econômica’. Dá se a impressão que Levy domina uma ciência que o comum dos mortais não consegue entender, mas que deve ter seus segredos. Faz aproximadamente 250 anos, desde Adam Smith (1776), que os economistas procuram erguer suas ‘artes’ ao patamar de ciência. A história desmente essa pretensão e apresenta muitos casos em que a economia provou ser, não uma ciência, mas uma ‘arte de fazer’.

– O Brasil está dividido entre inteligentes e ignorantes. Essa é uma análise extremamente grosseira, mas hoje vejo que ela é adotada por quem se autoproclama ‘filósofo’, ‘analista político’, ‘jornalista qualificado’. No final do ano passado, os ignorantes colocaram Dilma no poder, mas ‘depois de ver como ela governa’, compreendem que os inteligentes têm razão. Daí os números extremamente baixos da popularidade da presidenta. Mas, como se sabe de que modo Dilma governa? Isso passa necessariamente pela mediação dos grandes meios de comunicação, e assim voltamos ao acima exposto acerca da concentração da comunicação pública no Brasil nas mãos de um número extremamente reduzido de pessoas.

– O ciclo PT passou. Alguém disse isso e muitos o repetem. A explicação tem uma aura de verdade inconteste que dispensa análise empírica. Como foi dito por uma pessoa inteligente, deve ser verdade. Se você duvidar, é petista ignorante.

– Lula é populista. Essa frase também tem ares de inteligência. Mas o que se entende por ‘populista’? Assisti recentemente a um programa na televisão, em que se disse que populista é quem simpatiza os governos ‘populistas’ de Venezuela, Bolívia e Ecuador (as repúblicas bolivarianas). Isso, disse o interlocutor, não tem futuro, pois esses governos não têm dinheiro. Melhor aliar-se aos Estados Unidos e à Europa, onde há dinheiro. Então entendi o que é populista: é o contrário de dinheirista.

– Temos de combater o terrorismo. Divulgado aos quatro ventos pelo presidente americano Bush na manhã do dia 11 de novembro de 2001 (data do ataque às torres gêmeas em Nova Iorque) depois de receber um telefonema de seu conselheiro Kissinger que falou em ‘war on terror’ (guerra contra o terror), o terrorismo é um dos termos que caracterizam as sociedades em que vivemos. A civilização está sendo ameaçada por terroristas, assim como no passado esteve ameaçada por comunistas. Mas, se um drone americano mata pessoas inocentes no Afeganistão, isso é terrorismo? Não, ninguém diz isso. Matar inocentes no Afeganistão é combater o terrorismo, assim como apoiar golpes militares na América Latina, nos anos 1960-70, era combater o comunismo. Dias passados, a Câmara Federal aprovou uma lei que de certa forma aplica ao Brasil o pacote antiterrorista fabricado nos Estados Unidos. Essa lei parte da ideia que o terrorismo pode estender seus tentáculos sobre o país, o que deve ser evitado a qualquer custo. Temos de ficar de sobreaviso, pois a conspiração terrorista pode eclodir onde menos se espera. Quem não concordar com ideias divulgadas pelos grandes meios de comunicação, por exemplo, é potencialmente ‘terrorista’.

A lista de frases que hoje pretendem explicar o Brasil não se esgota com esses poucos exemplos. Mas as que apresentei brevemente acima bastam para que enxerguemos a saída diante do poder avassalador dessas e de outras frases que costumamos ouvir diariamente nos grandes meios de comunicação. Penso que, mais que nunca, é preciso usar o cérebro. A coisa mais preciosa que a natureza pode nos oferecer é um cérebro que funcione bem, ou seja, que nos faça pensar de forma independente. O cultivo de uma inteligência independente constitui a tarefa mais importante da vida.

Como o cérebro está diretamente ligado aos órgãos de observação (visão, audição) e trabalha os dados provenientes desses órgãos, tudo depende da capacidade de elaborar corretamente o que nos vem por meio da observação. Quando assistimos à TV, por exemplo, o cérebro não fica totalmente passivo mas interage com as imagens e as palavras.

Diante do bombardeio diário de imagens e mensagens, um cérebro sadio se posiciona de forma independente. Isso se chama reflexão. Esse cérebro forma um ‘critério’, ou seja, um pensamento crítico acerca do que ouvimos e vimos na tela. O critério correto é resultado de uma luta permanente pelo domínio sobre nossa própria mente. Arriscamos ‘perder a cabeça’ quando não reagimos diante da maré montante de palavras e imagens diariamente despejadas sobre nós. Pois se trata realmente de uma maré, que ameaça inundar tudo, se não construímos um dique seguro para conter seu avanço. Esse dique é nossa inteligência. Se não preservamos nossa inteligência independente, corremos o perigo de virar um rebanho empurrado por um louco.

A marcha do dia 16 de agosto. Para terminar, umas palavras acerca da marcha do dia 16 de agosto, em grande parte preparada pelo movimento ‘Vem Pra Rua’ (VPR), que se articula de forma bem organizada por meio da Internet. Há quem pensa que essa marcha apresenta uma alternativa para o Brasil. Mas é preciso saber que o movimento VPR se articula em torno de um núcleo duro de apenas cinco pessoas, um verdadeiro ‘comando’ muito bem organizado, com disciplina e sem crítica interna (como acaba de revelar o Jornal ‘Valor’). Se alguma mensagem corre pela Internet que não esteja de acordo com o que esse núcleo decide, ela é eliminada do circuito organizado pela VPR.

Estamos diante de um movimento que não tem nada de novo, a não ser a técnica de comunicação e o charme de pessoas bem-sucedidas na vida, que têm entre 40 e 50 anos e participam do dito núcleo central u colaboram com ele. Esse núcleo duro decide atacar Dilma e Lula (talvez Renan Calheiros), mas não Eduardo Cunha. Você participa da marcha, grita palavras de ordem e pensa agir com liberdade, mas na realidade está enquadrado dentro de um movimento que ‘outros’ (Globo, Veja, etc.) já começaram a interpretar antes mesmo que aconteça a marcha do dia 16 de agosto. É essa interpretação ‘pré-fabricada’ que constitui a ração a ser digerida pelo grande público a partir do dia 16 de agosto.

Fonte: https://leonardoboff.wordpress.com

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

FACHIN: É PRECISO PRESERVAR AS INSTITUIÇÕES E DEMOCRACIA

Nesta quarta-feira (12), o ministro Luiz Edson Fachin, recém empossado no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que diante da atual crise política o país deve estar “acima de qualquer embate” entre os poderes da República. Segundo ele, é preciso preservar as instituições para assegurar a democracia.


Nelson Jr/STF
Luiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal FederalLuiz Fachin é ministro do Supremo Tribunal Federal
“O que me parece muito importante neste momento, como, aliás, em todos, é colocar o Brasil acima de todo e qualquer embate que haja. Os interesses do Brasil são maiores que os interesses momentâneos de uma crise política que o país pode estar passando”, afirmou Fachin em entrevista após ser homenageado em um evento no Palácio do Itamaraty.

“É preciso preservar as instituições, preservar a democracia e estar disposto ao diálogo e à troca de ideias que levem em conta os interesses maiores do Brasil e não os interesses circunstanciais ou conjunturais. Este é grande desafio que se coloca para quem, de fato, quer apostar na estabilidade e não no caos”, acrescentou.

Para o ministro, dialogar significa “respeito ao dissenso” e não “adesão” de um poder ao outro. Ele também defendeu a necessidade de estabelecer uma “área comum de interesses” para assegurar estabilidade na economia, tranquilidade na sociedade e preservação das instituições democráticas.

Ao comentar a afirmação da presidenta Dilma Rousseff durante a cerimônia, de que é preciso respeitar a soberania das urnas, o ministro afirmou: “Do ponto de vista da democracia, a vontade popular é, evidentemente, determinante para a periodicidade da escolha dos nossos governantes e a vontade popular também expressa o gesto de soberania e preservação da democracia”.
 

EDUCAÇÃO INFANTIL: O DESAFIO DE ADEQUAR PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Quais são as melhores estratégias para construir práticas pedagógicas adequadas ao conhecimento do outro e do mundo social?

Creches e pré-escolas são, na maioria dos casos, o primeiro contato extrafamiliar da criança com o mundo e, por isso, apresentam oportunidades ímpares para o seu desenvolvimento em sociedade. A relação com novos adultos, o contato com pessoas de diferentes origens e interesses, as vivências em ambientes coletivos representam, por si sós, um laboratório de experiên­cias e aprendizagem sobre os aspectos sociais do mundo. Porém, quais os melhores caminhos para aproveitar esse potencial e construir práticas pedagógicas adequadas ao conhecimento do outro e do mundo social? Especialistas garantem que mesmo as escolas com abordagem mais didática e metodológica do conhecimento devem valer-se de atividades lúdicas e integradas, que provoquem a curiosidade da criança.

Beatriz Abuchaim, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), lembra que a criança apresenta uma curiosidade inata pelo ambiente que a circunda, incluindo os objetos, as pessoas e os elementos da natureza. Por isso, o professor deve observar seu comportamento, interesses e manifestações para, depois, propor experiências que contemplem a compreensão tanto de aspectos da natureza quanto da sociedade. "É fundamental que, nesse processo, as curiosidades e hipóteses das crianças sejam valorizadas, para que elas aprendam a desenvolver uma postura científica frente aos diversos objetos de conhecimento", destaca Beatriz.

Essa postura científica, nessa fase do desenvolvimento, deve ser traduzida por um questionamento, por parte das crianças, de suas próprias ideias e concepções sobre o mundo, e também pelo desejo de buscar novas informações. O professor é peça fundamental para estimular essa postura, por meio de observação permanente e escuta atenta. Uma simples atitude dos alunos pode transformar-se em um projeto pedagógico mais amplo e que abranja diversos aspectos de aprendizagem relativos ao mundo social.

Como exemplo, Beatriz conta que, durante uma pesquisa que realizava em sala de aula com crianças de 4 anos, um menino comentou que morava na favela. "A maioria dos alunos daquele grupo vivia em bairros mais urbanizados e alguns riram do colega. Em vez de repreender os que riram, a professora resolveu trabalhar o que eles entendiam por favela", conta. Assim, passou a registrar as ideias das crianças sobre o que é a favela. Aquelas que moravam em bairros mais urbanizados deram definições negativas, como: "onde dá tiro", "tem bandido" e "matam crianças". Depois, foi a vez dos que moravam na favela falar sobre o que achavam de seu mundo: "amigos"; "pes­soas boas, trabalhadoras"; e "pessoas normais, que não são traficantes".

À medida que novas ideias eram lançadas, as crianças ficavam cada vez mais sérias e compenetradas. Mais tarde, em conversa particular, a professora contou a Beatriz que pretendia continuar a trabalhar o assunto em sala de aula, elaborando um projeto pedagógico que abordasse a questão da violência e das diferenças sociais no Brasil.

"Assim, a docente partiu de uma manifestação das crianças do grupo, no caso o preconceito expresso em forma de risada, para tratar de assuntos mais amplos e profundos, que envolvem questões de cidadania e de convívio em sociedade", destaca. A pesquisadora da FCC também lembra que, conforme a proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais, a professora poderia planejar uma série de atividades que contemplassem o tema, explorando-o por meio de experiências em diferentes áreas de conhecimento.

Além das questões levantadas em função da curiosidade das crianças, Monica Fantin, professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acredita que as práticas pedagógicas voltadas ao conhecimento do mundo físico e social devem ser pautadas pela brincadeira e pela exploração da capacidade lúdica dos menores. Como sugestão, os docentes podem propor brincadeiras de detetive para que os alunos encontrem animais e insetos na escola e, depois, partir para atividades mais sistematizadas, como pedir pesquisas de imagens na internet.

"As crianças aprendem no contexto. Por isso, quanto mais brincarem e imaginarem, melhores condições terão para uma aprendizagem sistematizada", garante. Monica lembra que a abordagem das questões relativas ao mundo social nas escolas tem enfrentado questões novas, entre elas a diversidade das famílias, que podem contar, por exemplo, com uniões homoafetivas, assunto cada vez mais presente no cotidiano infantil e que, para ela, deve ser trazido para o contexto escolar.

► Olhar para a diversidade

No caso das escolas privadas, em que o perfil dos alunos tende a ser mais homogêneo, ela defende que os professores invistam ainda mais em atividades que ensinem a lidar com diversidade. "Os docentes devem propiciar o convívio com o diferente por meio de brincadeiras, filmes e músicas que mostrem a realidade de outros países ou famílias", aconselha. Apesar de reconhecer que as políticas públicas dos últimos dez anos tenham priorizado o lúdico e o imaginário na educação infantil, a educadora lembra que muitas escolas se baseiam em apostilas nessa etapa do ensino. "No final das contas, é o professor que dá a tônica na sala de aula", aponta.

Ao lado da exploração da curiosidade e da capacidade lúdica dos menores, Maria Thereza Marcilio, gestora institucional da ONG Avante, defende que as atividades relativas ao conhecimento social devem se apoiar em múltiplas linguagens - entre elas, atividades motoras, intelectuais, artísticas e orais - a exemplo do que defendia o pedagogo italiano Loris Malaguzzi, que enxergava as crianças como partícipes do processo de construção do conhecimento, da identidade e da cultura escolares.

"Alunos de até 6 anos se expressam de forma mais rica e polifônica do que os adultos, e os docentes podem propor atividades nessas diferentes linguagens para enriquecer o processo pedagógico", diz. De acordo com a gestora, é preciso centrar o currículo escolar nas questões que a própria criança coloca, que muitas vezes são profundas e se relacionam a assuntos como nascimentos, mortes, polêmicas familiares e raciais.

Maria Thereza concorda com Monica, da UFSC, ao criticar as escolas de educação infantil que estabelecem horários determinados para o brincar. "O modo privilegiado de a criança se relacionar com o mundo é o brincar. Assim, é por meio do lúdico que a escola deve trabalhar todas as suas atividades", defende. Porém, apesar da crítica, reconhece que as grandes descobertas teóricas em relação à primeira infância são recentes e as instituições ainda estão se apropriando dessas teorias.

► Conceitos na prática

Atividades interdisciplinares e incentivos à curiosidade são dois eixos comuns em práticas pedagógicas de duas escolas particulares de São Paulo. Eduardo Zayat Chammas, coordenador de ciências humanas no Colégio Lourenço Castanho, explica que os conceitos de história, geografia e filosofia são trabalhados por meio de atividades integradas. Um projeto realizado em 2014 e no qual crianças de 5 anos tinham de responder de onde vêm determinados produtos mostra como é o trabalho da escola. "Os alunos investigaram o processo de produção e as origens históricas de elementos como o chocolate e o papel", conta. As crianças também participaram de uma atividade para produzir papiro com a planta, colocando em prática informações levantadas previamente.

Também preocupada com a interdisciplinaridade, Isabella Nigro, professora de educação infantil do Colégio Marista Arquidiocesano, detalha que o trabalho que equivale às disciplinas do leque das ciências sociais aos menores da instituição se dá por meio de atividades integradas que permitem preservar o conhecimento histórico e ensinam como lidar com a diversidade cultural e desenvolver a identidade. Um exemplo foi o circo organizado para as crianças de 2 anos. Sua finalidade era incentivar a evolução motora de forma lúdica e trazer informações sobre brincadeiras tradicionais, como trapézio e malabarismo, que muitas não conheciam. Assim, artistas circenses foram levados à escola e os espetáculos registrados em fotografias para permitir que as crianças e os pais revivessem a experiência.



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O QUE APRENDI SENDO PAI NAS NOITES, DIAS, PERTO E DISTANTE!

''A gente não nasce pai educador... A gente nasce aprendiz e morreremos apreendendo, porque filho é obra para vida e a vida é a única obra que nunca ficará pronta.''

A gente não nasce Pai, a gente nasce possibilidade, a gente nasce vir a ser, a gente nasce construção e se realiza quando torna-se. Não meramente pai biológico, mas pai existente, pai presente, pai responsável e apaixonado.

A gente não nasce para trocar fraldas, dar banho, mamadeira, papinha e balançar durante as noites de insônia, a gente nasce para SER tudo isso ao mesmo tempo.
A gente nasce para ser amor, porque o amor é capacidade de fazer, atender, promover e refletir a felicidade do filho. Quem não ama não pode ser pai, nunca será pai e muito menos sentirá a existência do filho.

A gente não nasce pai exemplar, a gente se faz a caminho, porque caminhar é amar, apreender. E então assumimos essa condição de ser o espelho do filho, do bom caráter, do exigente, estimulante e orientador. A gente nasce para ser o herói, não aquele de carne osso, mas o herói de sentimentos, que não está ali para salvar e sim para amar porque o amor vaporiza inseguranças e sedimenta segurança.

A gente não nasce pai para pagar pensão, a gente não nasce pai para brigar nos tribunais, a gente nasce para se assumir pai. A gente nasce para ser livre, amadurecer consciência e assumir a responsabilidade de ser espelho, de ser saudade, de ser segurança, de ser esperança na vida do filho.

A gente não nasce para ser meramente pai, a gente nasce para ser ‘PÃE’ pai e mãe junto, porque filho não vem com manual contendo cuidados específicos para progenitor e progenitora. Filho é como flor cultivado nos jardins da vida por onde a família passeia, observa, cuida e ama incessantemente, porque um jardim abandonado é um lugar triste onde a beleza, sonhos e objetivos morrem.

A gente não nasce pai educador, a gente nasce educando, nasce pai e filho, filho e pai. A gente nasce aprendiz e morreremos apreendendo, porque filho é obra para vida e a vida é a única obra que nunca ficará pronta.

A gente não nasce para comemorar datas, a gente nasce para ser data todos os dias, relógio vinte quatro horas, sombreiro dos dias quentes, agasalho dos dias frios, e abrigo aos dias de tempestades. A gente nasce para ser, sendo e assumindo.

A gente não nasce pai, a gente nasce filho, nasce mãe, nasce avô, nasce sonho. A gente será sempre o filho: do pai, do tempo, do lugar, da vida e do amor – Pai e FILHO, Filho e PAI, ontem, hoje, amanhã até tarde da vida e o renascer na geração seguinte.

Pai e FILHO, Filho e PAI tem que ser dialética do Amor – eu tenho um filho e nele me torno, me educo, me renovo, me espelho, me reflito, amadureço e amo. Sou o ontem, o hoje e ainda serei o amanhã Pai e FILHO, Filho e PAI. Porque PAI de verdade não se explica no biológico, mas no silogismo lógico e verdadeiro do cuidado permanente e no amor incondicional!


Neuri Adilio Alves - Pai, Professor Pesquisador em Filosofia e Antropologia Filosófica Existencial.