sábado, 23 de maio de 2015

Tecnologia: aliada ou inimiga do pensamento crítico?

Por Flávia Siqueira

'Debate analisa se essa ainda é uma questão válida na educação'

A tecnologia é um estímulo ou um obstáculo para o pensamento crítico? Essa pergunta pautou a mesa de debate que reuniu os professores e pesquisadores David Cavallo, Lucio Teles e Christian Di Maggio na Bett Brasil Educar 2015.

Cavallo, pesquisador norte-americano do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e referência no tema, é um entusiasta do uso de tecnologia na educação. Para ele, não é possível desenvolver o pensamento crítico apenas ouvindo - é necessário fazer e criar e, para isso, a tecnologia é essencial.

Ele ilustra com um exemplo típico das aulas de física: é mais eficiente ensinar os princípios do atrito estático em um plano inclinado por meio de um projeto em que os alunos construam um modelo real do que usando apenas desenhos na lousa.

“Nesse caso, o projeto provavelmente não dará certo na primeira vez. Então, o aluno terá que recorrer ao pensamento crítico para descobrir por que o que ele fez não está funcionando e como resolver”, afirma o pesquisador.

Em seguida, o professor Lucio Teles, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), apresentou reflexões de estudiosos sobre a ligação entre pensamento crítico e acesso à tecnologia. Não há consenso: enquanto parte dos acadêmicos veem os recursos digitais como ferramentas cognitivas úteis, outros os apontam como fonte de declínio do pensamento e de superficialidade.

Cavallo afirma que não há como romper com a tecnologia: ela está sendo usada, por bem ou por mal. “A tecnologia é muitas coisas, não é uma só. Tecnologia é o novo, qualquer coisa criada após nascermos.” No passado, por exemplo, a caneta e a impressão tipográfica foram (ou poderiam ser) consideradas novas tecnologias.

É o uso que fazemos da tecnologia, portanto, que está em questão. E, se quisermos ter uma visão menos fragmentada do tema, é necessário fazer um exercício e tentar observar a realidade com os olhos das novas gerações. “Falamos muito em nativos digitais, mas para um nativo digital essa definição dele mesmo faz sentido?”, questiona Di Maggio, consultor e funcionário técnico do Ministério da Educação italiano. “Não, pois é o mundo dele. Decidir entre dizer sim ou não à tecnologia não é um problema verdadeiro.”

A questão, afirma Cavallo, é que a abordagem “industrial” da alfabetização e do ensino em massa não está mais funcionando. Di Maggio argumenta no mesmo sentido: décadas atrás, a escola nos dava acesso a informações que não tínhamos em casa; hoje, o cenário se inverteu – os jovens vão para a escola e não encontram lá o que eles têm em casa ou na tela de um celular.

Mas o cenário brasileiro não é árido como muitos podem pensar, aponta Cavallo. Segundo o professor, não faltam bons professores, boas ideias e bons projetos no Brasil. O problema está na distribuição dessas soluções, que ainda estão longe de chegar a todos.

Por fim, partiu do público uma das reflexões mais claras sobre o tema: não cabe ao professor optar ou não pela tecnologia, mas orientar os alunos sobre como usá-la para construir conhecimento e não cair na superficialidade.