sexta-feira, 7 de março de 2014

Chapecó: o farisaísmo político e o Silêncio de Deus

''Porque o silêncio de Deus se durante uma década ele circulou na cidade como chavão político!''

Quando o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche expôs ao mundo a declaração ''Deus está morto'', o mundo cristão venho a baixo com teólogos, pastores, críticos, moralistas e os opinadores de botequim o declarando insano antes mesmo de ser acometido por doença. Mal sabiam ou queriam eles acreditar que o filósofo com tamanha destreza, percepção e competência teve a coragem eloquente de desnudarmos. Ele desnudou nossas contradições, mostrou que o Ente metafísico havia sido substituído pelas nossas conveniências modernas. Havia Ele se tornado produto desdenhado do nosso jogo de necessidades supérfluas, de nosso culto as catedrais de consumo e mazelas hedonista do mundo profano, embora continuasse 'insepulcro' em locais de cultos. 

Foto montagem de Avenida Getúlio Vargas centro de Chapecó
Porque me ater a tal comentário? Porque queria chegar ao título do texto e rememorar o uso de o versículo bíblico de Romanos 8,13 muito usado como estandarte profano em Chapecó: ''Se Deus é por nós quem será contra nós'' que circulou como mantra massificada politicamente pelo menos durante uma década em nossa cidade. Há serviço de que? … de quem? … e por quê?...esse fragmento bíblico deturpadamente circulava em para brisas, para choques e latarias de veículos. 

A resposta é simples: não se tratava de evangelização, mas de politização e vulgarização da expressão bíblica. Da coisificação de Deus em detrimento de processos políticos eleitorais da direita usual. A face vergonhosa e bandida da política moderna com 'fariseus e saduceus' diferente da história bíblica, aqui governam juntos como os cobradores de 'impostos' e os 'impostores' do tempo de JC. Mas o que me chama atenção diante dos grandes problemas políticos que a cidade enfrenta é esse aparente desaparecimento usual do versículo bíblico me incitando a fazer perguntas aos proponentes e usuários do mesmo: 

Porque agora o 'Silêncio de Deus' diante da violência se supostamente como usado no versículo aqui 'Ele seria (governaria) por/pra nós'? Teria Deus se envergonhado dos 'seus escolhidos' homens públicos e abandonado o barco a deriva? Teria Deus se frustrado com os mentirosos oportunistas de altares e palanques políticos? Teria Deus se zangado com os Fariseus e Saduceus da administração que o usaram diante da ignorância do povo pra governar e DESgovernar? Estaria Deus envergonhado de vereadores, prefeito e deputados que se elegeram em-e-por Chapecó usando seu nome em vão?

Não!!! Deus não poderia se envergonhar, esquecer e fugir, não poderia ser covarde, não abandonaria o seu povo, não faria o papel dos usurpadores, oportunistas. O que vem acontecendo na cidade é que o farisaísmo não consegue mais esconder a vulgaridade do modelo esgotado e falido de administração! O que não se consegue mais é enganar massivamente o povo com o uso de expressões delegadas ao pecaminoso as ameaças chulas e até concretizadas como assédio moral de servidores, banalização de assassinatos como foi o caso do vereador ou atentados contra lideranças e cidadãos comuns. O que não se consegue mais é enganar aquela grande massa de pessoas famintas de espiritualidade, outrora enganadas dentro de igrejas que tem por prática condenar inocentes e inocentar bandidos para serem seus representantes políticos. – Razão pela qual é preciso se emancipar dessa espécie de menoridade espiritualista. 

É preciso os cidadãos emanciparem-se em consciência para discernir a trajetória estratégica de um idiota que conheci com 'sinais de dislexia' no inicio dos anos 80 fazendo pregações em uma casa simples na rua Rui Barbosa. O mesmo chamado de ''Homem de Deus'' mas que passou pelo menos os últimos 30 anos usando de pregações relés pra fazer carreira na política. E como se fosse a personificação do quinto evangelho para lá do apócrifo edificou um imenso patrimônio, ocupando atualmente a cadeira pelo quinto mandato consecutivo de deputado. A quem ele responderia essa espécie de silêncio do 'Deus' por ele propalado que estaria junto do povo como sinal de libertação? O Deus que libertaria o povo dos próprios opressores que ele costuma se assentar a mesa para a ceia do fascismo administrativo e correligionário!

A grande verdade é que se o povo chapecoense realmente deseja ter uma cidade com menos violência, mais política de acessibilidade, mobilidade urbana, transporte de qualidade, saúde, educação, lazer, infraestrutura nos bairros e interior precisa dar passos! Precisa avançar para além do ufanismo midiático, tendencioso, falso e mentiroso tão ativo na cidade. Precisa se emancipar do vulgarismo pentecostalista, evangélico e carismático, relacionando quantidade e qualidade. Sabendo discernir pela seriedade dos que anunciam a palavra sem a teologia da retribuição de palanques. Precisa se libertar do maniqueísmo ignorante que afeta como uma chaga no 'inconsciente coletivo' de boa parte da população, inocentando algoses, criminalizando, desprezando e esterilizando a possibilidade do novo. 

Quando assim passarmos a agir ouviremos mais a 'Voz' de Deus, escutaremos mais a voz de nossos iguais, discerniremos o que é uma ação política coletiva em busca de mais segurança pública (clamor do povo) e o que é pirotecnia politiqueira de empresários preocupados com seu capital. Quando assim fizermos como cidadãos livres novamente pra viver e acreditar, veremos que o novo pode mudar a história, porque ele é parte de nós como ''vinho novo em odres velhos''! E então enfim, Deus Consciência sentará a mesa da justiça político-social novamente e nos fará cidadãos de coragem para mudar, movidos pela esperança libertadora, porque para além disso só castigo, ranger de dentes e desesperanças. 

Pois ao contrário do que a maioria acredita o ufanismo moralista, o pentecostalismo apocalíptico, o evangelismo de porta de cadeia, o populismo de salvação e messiânico nunca foram sinais de vida, mas projetos de morte. Morte das motivações, da coragem de mudar e lutar por algo novo, de pensar a vida como a única oportunidade que temos pra crescer como agentes de transformação e libertação de todas as formas de opressão. E que venham os supostamente instruídos na teologia do cagaço de encontro aos meus anos de seminário com a teologia tomista e da libertação, das incessantes horas dedicadas a filosofia, antropologia, psicologia e sociologia estarei aqui armado para o debate. Vocês com o fundamentalismo messiânico e apologeta da serpente pecaminosa e eu a cortante navalha de Ockham. Confesso que tenho vergonha de rememorar certas coisas, mas acredito que o filósofo tinha razão 'até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens'.

Neuri Adilio Alves
Professor Pesquisador, Graduado em Filosofia e Antropologia

domingo, 2 de março de 2014

E se Joaquim Barbosa fosse candidato a presidente?

Artigo Publicado 10 junho 2013

É sintomático o fato de a figura do atual presidente do STF ser cogitado como candidato à Presidência em pesquisas de opinião. Mas o que isso significaria em termos políticos? 

Um rumor de toga

Primeiro, surgiu uma cogitação no reino da boataria. Depois, passou a perambular uma torcida pelas redes sociais. Finalmente, a ideia de uma candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República em 2014 se espalhou por alguns veículos de imprensa.

O assunto até chegou a ser ventilado fora do país. Em uma entrevista à agência Bloomberg, especializada em mercado financeiro, o já presidente do STF foi apresentado ao público estrangeiro como alguém comparável a Barack Obama. A repórter Ellis Cose começou a entrevista logo fazendo a pergunta, direta e reta, sobre a possibilidade de ele concorrer à Presidência da República. Barbosa respondeu:

"Eu nunca me vi sendo presidente do Brasil. Em primeiro lugar, não sou político. Nunca fui e penso que sou uma pessoa improvável para esse tipo de atividade por causa da minha franqueza. Nunca lidei nem tenho conexões com partidos".

Mesmo assim, alguns entusiastas, por conta própria, criaram uma página especialmente para fazer a apologia do suposto-futuro-jamais-candidato e para colocar sua campanha na rua, aliás, fora do prazo determinado pela lei eleitoral. Na página já se pode baixar o adesivo, conhecer sua biografia e acompanhar notícias na imprensa que falam da aventada candidatura.

Mas, e o partido?

Finalmente, apareceu o que faltava: um partido, ou quase. O Partido Militar, que ainda não existe, tem apenas metade das fichas de filiação necessárias para ser homologado e lançar-se às eleições de 2014. Mas não se fez de rogado e já anunciou um convite a Joaquim Barbosapara ser candidato. O convite certamente se tornou a principal peça publicitária de um partido em busca de uma razão de ser.

Pouca gente sabe, mas o Brasil já teve dois presidentes que passaram pelo STF. O primeiro foi Epitácio Pessoa, de 1918 a 1922. O segundo foi José Linhares, que assumiu o cargo interinamente, por dois meses, no lugar de Getúlio Vargas, quando deposto em 1945.

No campo das possibilidades, uma aventura presidencial de Joaquim Barbosa teria várias dificuldades. Para concorrer à presidência, é fundamental ter o apoio de um partido nacional, de preferência, médio ou grande, e de uma coligação que ofereça uma razoável cobertura nos estados. Partidos e coligações maiores proporcionam mais tempo de rádio e TV, mais comitês eleitorais e mais propaganda de rua, que contam muito até em campanha para vereador, que dirá para presidente.

Enfim, das duas, uma: ou Barbosa teria que ser “adotado” por um partido médio ou grande, desses que acabou de chamar de “partidos de mentirinha”, ou teria que inventar um partido de verdade do dia para a noite, algo difícil de escapar da pecha de oportunismo.

O problema é que os partidos grandes e médios, quase todos, já têm lá seus candidatos. Salvo algumas exceções, como, por exemplo, o DEM, ex-partido de Demóstenes Torres e José Roberto Arruda, ou o PTB de Roberto Jefferson. Qualquer que seja o partido, a vida pregressa de seus líderes e correligionários imediatamente se colaria em Barbosa. “Diga-me com quem tu andas”, perguntariam os eleitores.

E se Barbosa formasse chapa com Marina Silva?

Se optasse por um partido maior, Barbosa ficaria muito mal na foto. Se saísse por um partido pequeno, sumiria da foto. Inventar um novo partido em menos de seis meses é algo fora de questão. A única possibilidade viável, até para evitar uma concorrência na mesma raia, seria uma dobradinha Barbosa- Marina Silva, ou vice-versa. Aí teríamos uma candidatura espetaculosa, cheia de apelos midiáticos.

O primeiro grande problema é que nem Barbosa nem Marina têm cara de estarem pleiteando a vice de quem quer que seja. O segundo problema é que a Rede é, por excelência, um partido de mentirinha. É um partido que tem vergonha de usar a palavra “partido” para se definir, mas que defende com unhas e dentes o interesse de não apenas ser reconhecido como um partido, mas de ter as regalias a eles reservadas de modo a poder usar os recursos do fundo partidário e ter acesso ao horário eleitoral, que é pago com dinheiro público, antes mesmo de ter recebido um único voto.

A ideologia desse partido tem nome. Chama-se Marina Silva. Seus seguidores são os “marineiros”, um culto à personalidade pra ninguém botar defeito. É o partido da Marina, pela Marina e para a Marina.

O que faria Joaquim Barbosa em um partido dessa natureza, depois de ter reclamado dos que buscam “o poder pelo poder”?

Quem financiaria Joaquim Barbosa?

Outro aspecto a se perguntar é quem iria financiar a campanha de Barbosa. Seguindo estritamente as regras eleitorais fiscalizadas pelo TSE, qualquer um poderia fazê-lo. Pela Rede, estariam excluídas as empresas de armas, bebidas alcoólicas, cigarros e agrotóxicos, mas foram providencialmente preservados os bancos e as empreiteiras, que são os maiores doadores de campanha.

Mas, imaginemos uma campanha heroica, financiada por recursos individuais. O fato de os recursos serem individuais não diz se eles são grandes ou pequenos. Doações individuais não necessariamente são mais limpas do que as provenientes de empresas – depende da pessoa e da empresa. Uma campanha voluntariosa normalmente é eivada de informalidades. Muita coisa é feita na cara e na coragem, de modo até criativo, mas às vezes difícil de ser “contabilizado”.

Por mais quixotesco que seja o candidato, ele se torna protagonista ou coadjuvante do sistema político que se propõe a atacar. Ser candidato significa aceitar as regras do jogo, sendo conivente com as mazelas que aponta, ou conformar-se à condição de anticandidato.

Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa?

Tão ou mais importante do que imaginar se Barbosa pode ou não ser candidato, ou se teria chances de ser eleito, é considerar que tipo de governo ele faria. Qual seria seu programa? Qual seria sua agenda prioritária de desenvolvimento do país? Quem seriam seus líderes na Câmara e no Senado? E seus partidos aliados? De que maneira ele trataria os demais Poderes? Como trataria o próprio Judiciário? E os governadores de estado? E os prefeitos? E a imprensa? O que ele de fato conseguiria fazer? Quanto tempo duraria um governo Joaquim Barbosa sem que se corresse o risco de paralisia decisória?

Por que caminhos iria levar sua pregação contra os partidos, contra as maiorias congressuais e contra a dominância do Executivo sobre a agenda do país, requisitos para que um governo governe? Que tipo de regime seria esse em que um presidente deve supostamente se comportar como uma majestade que reina, mas não governa?

Que poder é esse?

O Judiciário não é um poder representativo, tampouco é um poder democrático. Seus integrantes devem ser, todos eles, pessoas democráticas, e suas decisões servem a proteger o Estado democrático de Direito. No entanto, o Judiciário é - e é feito para ser - um poder meritocrático, em que pese seus membros serem indicados, como se sabe, por regras sujeitas a injunções políticas e a interesses de toda sorte.

Mas parece que a mosca azul tem rondado a instância suprema do Judiciário país. É sintomático o fato de a figura de seu atual presidente ser cogitado como candidato à Presidência. Não que ele não possa. Pode e deve. Para tal temos partidos, eleições e debate democrático.

Seria positivo termos mais gente do Judiciário como candidata. Isso poderia contribuir para trazer outras questões relevantes à baila, de forma qualificada. Contudo, termos magistrados se comportando quase como pré-candidatos é algo que compromete o papel do Judiciário brasileiro. Mesmo em um campeonato com muitos jogadores pernas de pau e desleais, com jogos cheios de lances faltosos, ninguém imagina que a melhor solução para o problema seja o juiz começar a chutar a bola e a reclamar do nível dos times.

De 1988 a 2012, o número de ações que deram entrada no Poder Judiciário subiu de 350 mil para 26 milhões (dados do Anuário da Justiça, 2013). Fosse um Poder mais transparente e mais eficiente para lidar com o problema da impunidade, diante dessa avalanche de processos sob sua responsabilidade, já daria uma grande contribuição à República.

Antonio Lassance - Cientista político
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

Fonte: http://antoniolassance.blogspot.com.br