quarta-feira, 9 de junho de 2010

 Criminalização da pobreza

A polícia do Rio de Janeiro, em comparação com as suas congêneres do Brasil e do mundo, é a que mais mata e a que mais morre. Ela é ao mesmo tempo algoz e vítima de um processo vicioso que só faz agravar a espiral da violência, resultado inevitável de uma política de segurança da qual o governo se vangloria, apesar da sua comprovada ineficácia.
 
Toda vez que se publicam relatórios e dados sobre a questão da violência e os direitos humanos, o cidadão fluminense se vê diante do doloroso dever de constatar a permanência de tão trágica realidade. Exemplo? Basta ver o informe da Human Rights Watch (HRW), publicado com destaque nos jornais desta quarta-feira. Os números são estarrecedores e não foram desmentidos pelas autoridades.
 
Em 2008, os policiais do Rio cometeram 1.137 homicídios durante o expediente ou fora dele. O tamanho do absurdo se mede pela comparação com outros estados e até países. No estado de São Paulo, foram 397 as mortes cometidas por policiais no mesmo período. Na África do Sul e nos Estados Unidos, considerado o país inteiro em ambos os casos, os números foram 468 e 371, respectivamente. A relação entre o número de mortos e número de prisões efetuadas é outro dado altamente revelador. No Rio, para cada suspeito morto por policiais, estes conseguiram efetuar 23 prisões; em São Paulo, 1/348; e nos EUA 1/37.751. Outra dimensão do mesmo descalabro são os dados que medem a relação entre mortes cometidas por policiais para cada óbito de policial. Nos EUA 9,05; em São Paulo, 18,05; e no Rio são 43,73 mortos para cada óbito policial.
 
Toda comparação, claro, padece de problemas e carece de ser relativizada. Mas, no caso, trata-se de uma questão específica, analisada com base em dados oficiais, em regiões assemelhadas. Em todas elas, a violência se concentra nas megalópoles atravessadas pelos problemas típicos do capitalismo pós-moderno. Sendo assim, descartado o castigo de Deus como hipótese, deve haver uma explicação para os números que conferem ao Rio de Janeiro uma distinção tão macabra. Para os estudiosos mais acurados do assunto, a política de segurança adotada pelo governo Cabral é a causa maior do descalabro.
 
Ancorada na lógica do confronto bruto, tal política opera na base da aceitação tácita do uso ilegal da força letal. Há muito que se denuncia, sem que se consiga estancar a sangria literal que daí decorre, os chamados "autos de resistência". São utilizados como forma de justificar os homicídios cometidos e funcionam, na prática, como uma licença para matar. Ao comparar a recente derrubada de um helicóptero policial com a queda das Torres Gêmeas, o secretário de Segurança forneceu justificativa para a espiral de violência. No espírito da vendeta, bandido e polícia se igualam no exercício descontrolado da força e na produção da insegurança coletiva.
 
A brutalidade policial cumpre também uma função política. A reprodução das relações sociais marcadas pela desigualdade e pela injustiça não se faz sem certo grau de violência segregacionista contra os mais pobres. Como escreveu, em artigo recente, Chico Alencar, deputado federal do PSOL/RJ: "uma política de segurança que mira invariavelmente os de baixo, jogando sobre eles toda culpa sobre os malfeitos de uma sociedade desigual, tem nome e sobrenome: criminalização da pobreza".
 
Léo Lince é sociólogo. 
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br
 Espetáculo obsceno

O tempo passa, o tempo voa, a bolsa sobe e desce, a crise finge sumir e reaparece, mas a lucratividade dos banqueiros continua numa boa. Na alta ou na baixa, no sujo ou no limpo e até no mal lavado, eles ganham sempre. Mandam e desmandam nos governos, regulam os que deviam regulá-los, seguem soberanos na fortaleza inexpugnável da tirania financeira que avassala o mundo.
 
Em todo e qualquer lugar, seja no Império Americano hipotecado, na tragédia grega ou nos pólos avançados da velha Europa, os protocolos da supremacia absoluta do capital financeiro continuam a girar as roletas do cassino. Por toda a parte, com a voracidade das matilhas, eles atacam sem dó nem piedade.
 
Aqui no Brasil, então, nem se fala. A cada trimestre os balancetes dos bancos registram recordes cuja superação parecia impossível. A regra, que se repete de maneira cronometrada, foi confirmada na safra atual. O lucro líquido declarado pelos maiores bancos privados brasileiros nos três primeiros meses deste ano alcançou um padrão estratosférico. Nunca, em tempo algum, o Itaú, o Bradesco e Santander ganharam tanto dinheiro.
 
Para evitar a sensaboria dos números, vamos nos limitar ao caso do Itaú Unibanco. É, por enquanto, o maior banco privado e declarou, para o trimestre, um lucro líquido de R$ 3,23 bilhões. Um aumento brutal, de cerca de 60%, em relação ao mesmo período do ano passado. Lucratividade espantosa: é o maior valor já registrado para um trimestre ao longo de toda a história do setor.
 
Uma conta simples, dando de lambuja os domingos e feriados, define o montante do lucro líquido diário: R$ 35,9 milhões. Logo, para efeito de comparação, um trabalhador de salário mínimo levaria quase seis séculos para amealhar uma quantia semelhante. Como Brasil foi "descoberto" em 1500, para equiparar ao que o Itaú lucra num dia, o nosso trabalhador hipotético teria que ter começado sua poupança na era pré-colombiana.
 
Uma disparidade absurda. Um retrato cruel do abismo que separa as classes sociais no Brasil de hoje. Não há ou, melhor dizendo, não deveria haver qualquer possibilidade de convívio sereno entre a consciência digna da cidadania e semelhante absurdo. No entanto, no torpor gerado pela morfina-dinheiro, o absurdo é tratado como parte integrante da paisagem. Natural como a explosão de um vulcão.
 
A roleta financeira que gira sem freios é a imagem mais precisa do horror econômico que nos governa. A propriedade que tem o dinheiro - de existir como valor separado de qualquer substância - está na base desta vertigem da pecúnia sem limites. A violenta concentração de poder materializado no dinheiro, hermafrodita que se reproduz na relação consigo mesmo (D-D’), explica muita coisa. A dívida pública, um Himalaia de juros sobre juros. A prevalência do financiamento privado de campanhas eleitorais cada vez mais caras. O tal superávit primário, que sacrifica direitos sociais e sucateia serviços públicos essenciais para garantir o pagamento religioso dos juros.
 
Montaigne, no célebre ensaio "Dos Canibais", relata a presença de índios trazidos do "Novo Mundo" recém descoberto para visitar a reluzente corte francesa. Ao invés de se embasbacarem com tanto luxo e riqueza, eles se espantaram foi com a desigualdade. Para eles, a brutal disparidade entre o palácio e as ruas não era natural. O sentimento igualitário do passado imemorial há de retornar no futuro utópico. Por enquanto, quando os bancos publicarem balancetes, por favor, tirem as crianças da sala para evitar o espetáculo obsceno.
 
Léo Lince é sociólogo. 
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/
 
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O tempo está doido!
Escrito por Gabriel Perissé   

Tenho ouvido várias vezes, e eu mesmo tenho repetido sem pensar, uma frase cheia de perplexidade: - É, o tempo está doido!
Doido tempo porque simplesmente não quer obedecer à nossa lógica. Ficamos espantados se chove demais, se o sol vem e vai embora sem avisar, sem pedir licença.
Ficamos escandalizados se faz calor no inverno, se faz frio no verão. Queremos, talvez, abrir um processo contra o tempo quando ele, doido, não obedece às nossas previsões.
Mas doido o tempo não é. O tempo nunca foi sensato. Não se pode fazer terapia com o tempo. Nem esperar que ele se comporte como nós, seres tão sensatos que somos. O tempo e seus temporais não são surtos da natureza. Não são manifestações hormonais. São, apenas, naturais.
Que idéia doida a nossa, querer que o tempo seja um rapaz cordato, uma senhora recatada, um cidadão responsável, um funcionário pontual, honesto, sem gestos bruscos, sem palavras intempestivas, um moço ajuizado, de temperamento tranqüilo, uma moça com a cabeça no lugar. O tempo não é gente, minha gente!
Dizem, e digo eu, que o tempo enlouqueceu, que o tempo está maluco. Devemos então interná-lo num manicômio? Devemos prendê-lo em camisa de força? Devemos ministrar remédios que o deixem calmo, sereno, sem tremores, sem lágrimas, sem febres, falando em voz baixa, chuvisco em nosso ouvido?
O tempo, com o passar do tempo, poderá ficar ainda mais louco. Se não tomarmos providências imediatas, o tempo vai amanhecer cada vez mais desgovernado. Poderá tornar-se um problema insolúvel.
Já é tempo de dizer ao tempo que ele administre melhor suas emoções, peça conselhos, leia algum tipo de auto-ajuda. Não é fácil, deve ele admitir, vivermos sob tamanho despautério, não é justo que nós, tão prudentes, sejamos vítimas dessa loucura do tempo, de suas enchentes, suas ventanias, manias.
Tempo lelé, tempo aloprado que ele é. Tempo biruta, demente, capaz de matar a gente num acesso de fúria. Tempo que me desatina, tempo destrambelhado, desvairado. Tempo mentecapto. Tempo pancada, batendo até altas horas o seu tambor. Tempo pinel.
Saio de casa sem saber o que o tempo vai aprontar. Levo guarda-chuva, roupa de inverno, desconfio das nuvens, não me impressiono com a brandura do sol.
E, à noite, o tempo não dorme. Fica acordado, tempo lunático, sua insônia me deixa agitado. Também não consigo dormir.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. 

Website: http://www.perisse.com.br/
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br 


Uso e abuso dos professores

Escrito por Gabriel Perissé

Li na Folha de S. Paulo, no dia 23 de janeiro de 2010, matéria assim intitulada: "SP admite ter de usar professor reprovado".
O verbo "usar" entra pelos olhos, assalta as mentes, espanca o coração, cai torto no estômago e nos faz mal.
O verbo "usar", bem conhecemos. Eu, você, todos nós usamos o verbo "usar". Usamos e abusamos. Faço uso desse verbo porque muitas coisas eu aprendi a usar.
Uso roupa, uso computador, uso escada para subir, uso papel para escrever, uso dinheiro para comprar, uso carro para me transportar, uso de tudo que é lícito para viver humanamente.
Usar não é errado quando uso e manipulo o que é usável e manipulável: objetos a meu dispor, simples ou complexos, caros ou baratos, de qualidade ou vagabundos.
Mas usar pessoas, isso não; isso é demais da conta. Usar pessoas, jamais! Usar alguém para escalar. Usar alguém para ganhar. Usar alguém para gozar. Usar alguém para vencer. Usar alguém é coisa que ninguém deveria fazer. Usar alguém não é do bem. Usar alguém faz mal, e faz mal aos dois: a quem é usado, e também àquele que usa!
Dirão, talvez, que entendi mal. Que o título da matéria não tem maldade. Que "usar" é assim mesmo, usamos sem pensar. Que temos aí um modo de escrever inofensivo. Que estou exagerando a força da palavra. Que estou usando mal a minha capacidade de ler o jornal. Que estou vendo coisas.
Contudo, lá está, a matéria diz: os professores reprovados serão usados. Usados, concluo, porque foram reprovados. E foram reprovados porque sempre foram usados. Porque têm sido objeto de uso e abuso.
O professor fez a prova e foi reprovado. O que será que essa prova provará? Será essa prova eliminatória ou "humilhatória"? O governo de São Paulo garante que o professor, mesmo reprovado, será usado. E ele, o professor, que já se habituou a ser usado faz tanto tempo, voltará a ser temporário. Por quanto tempo?
Usado e mal pago, de manhã, à tarde e à noite, o professor se sente manipulado como uma coisa. Sem aplauso, excluso, mero parafuso, o professor aceita ser usado.
E aqueles que, useiros e vezeiros em usar os professores, humilham o docente, provam, na verdade, que não sabem servir a sociedade. E se não vivem para servir, para que servem?
Gabriel Perissé é Doutor em Educação pela USP e escritor.
Livraria como lugar de terapia 


Entrar numa livraria é, em si mesmo, um ato terapêutico. Tudo ali converge para a cura do tédio e outras doenças: livros que querem gente e gente que gosta de livros, gente que trabalha com livros e gente buscando livros, cheiro de livro, livros em exposição, suas capas, a sensação incontestável de que o mundo é feito de papel e palavras.
Pelo menos uma vez por semana, saia da cama com a idéia fixa: entrar numa livraria. Fique ali durante meia hora, ou mais. Toque os livros e se deixe observar por eles.
Escolha um, leia algumas páginas ao acaso. Visite autores conhecidos. Conheça novos autores. Não pisque, não hesite, arrisque, molhe os pés nas águas frias de algum livro.
Não é preciso comprar nenhum livro no dia em que estiver na livraria. Basta ficar ali dentro, experimentando o clima livral, como se o mundo fosse aquilo só, aquela fosse a paisagem em que nos coube viver.
Escolha um dia qualquer, entre na livraria, para ouvir a respiração dos livros, seus sussurros, seus chamados silenciosos, sentir no ar a aflição dos livros — porque eles querem sair dali para conhecer a realidade aqui fora.
Se algum livro conquistar você, compre-o então, tire-o dali, daquela prisão, daquela redoma, daquele orfanato, daquele abismo. Leve-o para fora, prometa-lhe a leitura mais intensa, as descobertas mais empolgantes, os delírios de quem lê. Leve-o para fora dali. Para dentro da sua vida.
O livro comprado e levado é mais do que uma nova companhia. É compromisso para sempre, na euforia e na depressão, na miséria e na abundância, sem possibilidade de empréstimos, pois bem sabemos que livro não se empresta... Nem se devolve.
Ao chegar em casa, deixe o livro descansar um pouco, não tenha pressa. Deixe que ele se sinta à vontade. Mais tarde, quando enfim vocês dois estiverem juntos e puderem conversar em paz, esqueça-se de tudo, para lembrar o essencial.
Contudo, muitos outros livros estão ainda na livraria, sem destino, correndo o risco do encalhe, abandonados à própria sorte, ameaçados pelo esquecimento, pela morte. É preciso, portanto, voltar até lá, mergulhar outra vez na livraria.
Entre na livraria qualquer dia desses. Lá estão eles, os livros. Não queira saber se são caros ou baratos, famosos ou modestos, compreensíveis ou obscuros. Entre lá. Eles estão esperando por você, ansiosamente.




Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. 

Website: http://www.perisse.com.br/ 
Escrito por Gabriel Perissé - 22-Mar-2010

“Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”

Sexo, violência, corrupção, antisemitismo, família e religião são os ingredientes usados pelo diretor sueco Niels Arden Oplev para fazer, a partir do romance “Millennium 1”, do escritor Stieg Larsson (1954/2004), um filme que mantém o espectador acesso. Não que os filmes atuais já não tenham saturado o espectador com histórias de igual conteúdo. Só que neste “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, eles assumem um caráter multifacetado.


Da mesma moeda

Filme do diretor sueco Niels Arden Oplev faz espectador trafegar pelas trilhas obscuras do ódio e da vingança abertas por uma serial killer nazista



Oplev e seus co-roteiristas Rasmus Hersterberg e Nicolai Arcel dotam as sequências em que o sexo predomina de uma brutalidade que o destitui de qualquer erotismo. Torna-se bestial, voltado para prazeres doentios, que revelam a capacidade de o ser humano sentir prazer ao provocar dor no outro.

Mesmo quando a detetive particular Lisbeth Salander (Noomi Rapace) se sente atraída pelo jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), ela o usa mecanicamente. É como se ela, Lisbeth, temesse extravasar seus sentimentos. Apenas quando sofre abuso sexual, eles se manifestam. E, embora tanto ela quanto seu tutor e algoz sintam prazer em causar dor um no outro, ela sempre racionaliza o sofrimento.

Em duas sequências, ela responde à violência a que foi submetida com uma ferocidade que o surpreende. Sodomia, fetichismo, estupro, vão e voltam, por ação de um e outro. Sua aparente fragilidade é compensada pela rapidez e engenhosidade com que excuta sua ação. O fato de ser mulher pouco importa: ela não se furta a mergulhar no mal absoluto. Só então, seu algoz se retrai por sabê-la capaz de provocar-lhe dores e humilhação insuspeitas.

Em meio ao mal absoluto

Lisbeth Salander acaba tornando-se personagem emblemático deste início de Terceiro Milênio. Dark, andrógina, punk, ela avança pelos espaços disposta a responder a qualquer provocação. Não faz a mulher frágil, desprotegida, ela tem seus instantes de rancor, de vingança. Cerebral, meticulosa, inclemente, ela tem um senso de justiça, ética e moral muito particular. Tornam-se, assim, ferramentas para seus fins. Nada mais.

Diferente dela, Mikael segue a cartilha do politicamente correto. Suas denúncias das falcatruas praticadas por um magnata financeiro publicadas na revista Millennium onde trabalha lhe custam caro. Só o salva, aparentemente, o convite feito pelo bilionário Henrik Vender (Sven-Bertil Taube) para investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet. Aos poucos, ele percebe que na família Vender reina o ódio entre os irmãos e o temor do passado, marcado pela adesão ao nazismo, antisemitismo, desaparecimentos e mortes misteriosas. E todos procuram se isolar para que nada abale o conglomerado empresarial que dirigem.

Mikael então dependerá de Lisbeth para desvendar esta intrincada teia familiar, cheia de intrigas, incestos e golpes baixos. Ela o ajuda por querer, no fundo, compensá-lo por algo que ele desconhece. E ela própria tem um passado nebuloso contra o qual se debate. Desta forma se completam; se atraem e se repelem. Portanto, uma dupla disfuncional. Daquelas que têm uma química perfeita, mas cujos interesses são dispares, ditados pelas circunstâncias que os fazem lutar juntos.

Trama às vezes é inverossímil

Stieg Larsson e Oplev os obrigam decifrar diversos quebracabeças. Principalmente citações bíblicas plantadas pelo serial killer para despistar sua psicopatia antisemita. São pistas que embaralham a investigação impedindo-os ligá-las a fatos reais. A ponto de assemelhar-se a uma trama urdida por Robert Ludlun (“Círculo Matarese”): nebulosa, inverossímil, cheia de citações que remetem a “Seven” e “Código DaVinci”, sem vinculá-las ao assassino em série, cuja ira descarrega em mulheres judias.

Comportamento que atesta a decadência dos Vender, que tudo fazem para não ter suas ações desmascaradas. Martin, sobrinho de Henrik, revela-se possuidor dos traços malignos do pai, com uma frieza digna de Lisbeth. Esta, no instante em que com ele se defronta, joga sobre ele todo o ódio acumulado em suas relações com os homens que a fizeram sofrer. Inclemente, ela faz da “Lei do Talião”, olho por olho, dente por dente, algo menor: uma cena de arrepiar.

Embora, a narrativa conduzida por Oplev torne o filme instigante, sua trama não deixa de ser nebulosa. Ele tenta torná-la assimilável com uma encenação grandiosa, montagem gráfica, tomadas panorâmicas, ambientes sombrios. Mas tem dificuldade para encontrar o fechamento certo. Usa dois prólogos, dominados pelo emocional, que reduzem o impacto do filme. Descamba para o dramalhão, a necessidade de ter um fecho otimista, numa obra pontuada pelo realismo frio, ditado pela brancura da neve. Puro cinemão, ainda que bem estruturado e cheio de reviravoltas.

“Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”. (“Man Sim Hatar Kvinnor”). Aventura. Suécia/Dinamarca/Alemanha. 2009. 152 minutos. Roteiro: Niels Arden Oplev/Rasmus Hersterberg/ Nicolai Arcel, baseado no romance “Millennium 1”, de Stieg larsson. Direção: Niels Arden Oplev. Elenco:Michael Nyqvist, Noomi Rapace e Sven-Bertil Taube.



Cloves Geraldo * * Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

Fonte: Publicado dia 21 de Maio de 2010 - 0h08
Portal: http://www.vermelho.org.br/coluna 

Não silencio sobre direitos e cidadania para não ser cúmplice

Sobrevivesse ou não, deveria “entrar na Justiça”

O que dizer a um marido que dirige 120 quilômetros com a mulher em coma, 13 dias após o parto, e não encontrou socorro no caminho, embora tenha tentado num hospital em Pará de Minas? Disse-lhe que desconhecer os riscos dá coragem para atos como o dele.


Raramente algo me surpreende num pronto-socorro, depois de tantos anos pelejando. Mas às 6h30 da matina, após quase 24 horas de plantão, ver o enfermeiro levando uma mulher jovem, aparentemente em coma, para a sala de emergência, e saber que ela veio no carro da família, de um lugar a 120 km da capital, é estranho. Pois Minas é o Estado que mais possui ambulâncias e tem enraizada, desde priscas eras, a ideia da ambulância como, em si, um serviço de saúde. Candidato dono de ambulância não perde eleições nas Gerais.

Doente atendida, ânimos serenados e saindo do plantão, fui à portaria. Lá, uma família desolada: o marido, o filho de uns 8 anos, a mãe e uma irmã da mulher com um bebê de 13 dias nos braços. Uma cena chocante. Procurei chão ao saber que todos vieram no mesmo carro! Sem saber o que dizer, mas, como sou prática, pedi a uma enfermeira que providenciasse um pediatra para examinar o bebê e orientar a família sobre a sua alimentação. O que foi feito.

Meu mal-estar era profundo. De que adiantam as minhas lágrimas? De nada! Então, eu as engoli. Disse ao marido que tudo o que a medicina sabia fazer seria feito, porém estávamos recebendo a mulher em estado gravíssimo; e, se ela sobrevivesse ou não, em nome da dignidade e da memória dela, ele deveria “entrar na Justiça” para que os responsáveis fossem punidos exemplarmente. É uma história que não pode receber o selo da impunidade. Urge que as “autoridades competentes” demonstrem competência, saindo do imobilismo e tomando alguma providência. Morbimortalidade materna tem responsáveis, sempre!

O casal, ela com 37 anos, reside em Conceição do Pará (MG). No dia 11 de maio, ela fez uma cesariana em Pitangui (MG). Obteve alta no dia seguinte. No dia 19, apresentou forte dor de cabeça. Foi ao médico. Mesmo medicada, na sexta-feira à noite, a dor se tornou insuportável. Pediu ao marido que a levasse a Pará de Minas, um lugar de “mais recursos”. Não foi atendida. A mãe declarou que pedia para que não deixassem a sua filha morrer e implorou por uma ambulância. E nada! Sem nenhum médico ter se dignado a vê-la, da porta do hospital, a família pegou a estrada para Beagá.

Era sábado, 22 de maio. Amanhecia. No mesmo dia foi para o CTI, num pós-operatório neurocirúrgico (hemorragia subaracnoidea). Era uma paciente que precisava vir para Beagá, pois em sua cidade e naquela onde não foi acolhida eram parcos os recursos para a doença dela. Todavia, faria uma enorme diferença para ela ter sido atendida antes e transportada adequadamente. São cenas chocantes de descasos assim que dão todo sentido ao 28 de maio - Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher, e no Brasil, desde 1994, Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.

“Morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação, ou dentro de um período de 42 dias após o parto, independentemente da duração ou localização da gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela”. O 28 de maio é uma vitrine da história do feminismo e de todos espaços de resistência da luta mundial das mulheres pelo direito à saúde, em especial o sagrado direito de não morrer antes do tempo por causas preveníveis e evitáveis, e nem cruel, como a morte materna.
Fatima Oliveira  * Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: Publicada 26 de Maio de 2010
Portal:  http://www.vermelho.org.br/coluna

Cuidado com as filhas de Obama

Quem advertiu foi o próprio presidente. Malia e Sasha são duas bonitas meninas que completam 11 e 9 anos. Elas têm em Michelle e em Barack um duplo arsenal genético para serem no futuro muito elegantes. Mas, parece que ainda são duas diabinhas, a julgar pela bricadeira que Obama fez, num jantar público, para alguém que se aproximava de suas filhas: "Tenho duas palavras para vocês: zangões predadores".


Foto: Julilanne Showalter (Reuters)  
 
Era uma referência à mais nova arma de extermínio do império que ele governa: o veículo aéreo não tripulado, os aviões zangões da CIA, que vêm realizando operações de assassinato no Afeganistão e no Paquistão. Também já foram usados no Iêmen e na Somália, segundo reportagem especial da Reuters¹, publicada no Huffington Post, sob o sugestivo título de "Como a Casa Branca aprendeu a amar o programa de aviões zangões da CIA".

Mais que uma banalização dos assassinatos, a permanente exibição desses zangões representam a velha arrogância da cultura do poder nos EUA, daquelas que os caubóis de Hollywood materializavam em suas pistolas e botas cravejadas de prata, diante do povoado assustado. A mesma arrogância das ameaças de autoridades da Casa Branca, mostrada no Estadão² desta terça-feira: “O Brasil está desperdiçando toda a boa vontade dos EUA... Se o acordo for usado por outros países para adiar as sanções, isso vai prejudicar Brasil e a Turquia nos EUA”.

 “O acordo não muda as medidas que estamos adotando para que o Irã cumpra suas obrigações, incluindo sanções”, disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Uma arrogância que bate de frente com a receptividade do Financial Times³, que em editorial apoiou o acordo como uma saída para o impasse com o Irã. Ou com a observação do Council on Foreign Relations4, de NY, a instituição mais influente sobre a política externa dos EUA, para quem o acordo “põe EUA e seus parceiros europeus em situação difícil”, mas “afinal, receber bem a troca de combustível anunciada pode ser a escolha certa para os EUA”.

O analista David Rothkopf, da Foreign Policy5, avalia que o acordo pode ter derrubado anos de decisão bilateral entre EUA e União Soviética e depois EUA e a “comunidade internacional”, no conflito para definir os rumos da região. O acordo Brasil/Turquia/Irã também foi reconhecido por setores brasileiros que costumam ser críticos à nossa política externa, como a Folha de S Paulo6, em editorial nesta terça-feira. Como o ex-ministro Rubens Ricupero, em entrevista ao portal Terra Magazine7, e como o jornalista Jânio de Freitas8, para quem “Já se pode considerar que Lula e a sua equipe de relações externas fizeram no Irã um trabalho positivo para o Brasil”.

Em editorial nesta terça-feira The Guardian9 também caminha na contramão da arrogância de EUA e “comunidade internacional”. O sóbrio jornal britânico disse que o rascunho de sanções preparado contra o Irã “pode ser visto como um tapa das grandes potências nos esforços de negociação de outros países”. E aconselhou: “porém, neste mundo multipolar, Obama não pode se permitir tal coisa”. O jornal também elogiou Turquia e Brasil e lembrou o Japão: “juntas, essas nações assumiram o papel de negociador honesto abandonado por Inglaterra, França e Alemanha”, disse The Guardian.

Na mesma contramão, Roger Cohen, do New York Times10, lamenta que Brasil e Turquia tenha sido esnobados depois de “responderam ao chamado de Obama por uma nova era de responsabilidades compartilhada”. Para Cohen, os EUA não conseguem mais "impor soluções" às crises globais e sua reação ao acordo em Teerã "não fez nenhum sentido". Também o francês Le Monde11, em editorial desta quinta-feira, destaca as atuações de Brasil e Turquia que, depois de sucessos nos temas ambiental e comercial, marcaram uma nova etapa. “Os livros de história vão guardar esta data, 17 de maio, quando o Brasil e a Turquia propuseram à ONU o acordo negociado com Teerã”.

Se os zangões predadores de Obama deixarem.

(1) http://www.reuters.com/article/idUSTRE64H5SL20100518

(2) http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100518/not_imp553182,0.php

(3) http://www.ft.com/cms/s/0/9304584a-61e2-11df-998c-00144feab49a.html

(4) http://www.cfr.org/publication/22144/irans_sketchy_uranium_deal.html

(5) http://rothkopf.foreignpolicy.com/posts/2010/05/17/the_return_of_plan_b_emerging_power_diplomacy_in_the_middle_east

(6) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905201001.htm

(7) http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4435512-EI6578,00-Lula+merece+aplausos+opina+Ricupero+sobre+acordo+com+Ira.html

(8) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1805201005.htm

(9) http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/may/19/iran-nuclear-processing-un-sanctions

(10) http://www.nytimes.com/2010/05/21/opinion/21iht-edcohen.html

(11) http://www.lemonde.fr/opinions/article/2010/05/19/nucleaire-iranien-le-sud-emergent-veut-sa-place-dans-la-negociation_1353888_3232.html

Sidnei Liberal  * Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: Publicada 26 de Maio de 2010 - 0h02
http://www.vermelho.org.br/coluna

RESPOSTA AS CRITICAS CONTRA O GOVERNO CHAVES

A Guerra dos Botões

(Caro Marquinho) O poder da mídia está bem mais acima do que o poder eventual de um Cidadão Kane, um Roberto Marinho ou mesmo um Guillermo Zuloaga. O problema maior é o controle da comunicação que no mundo todo está circunscrito a meia dúzia de megaempresas.

Refiro-me à televisão, ao livro, jornal, revista, cinema, rádio, a despejar em nossas cabeças, já muito ocupadas com o cotidiano, a notícia já selecionada, conforme mostra “A Caixa de Sapatos de William Bonner”, postado no Boletim HSLiberal ¹. É desse modo que recebemos, muitas vezes de forma descuidada, a informação que outros interesses produzem. E falo apenas daqueles que, como nós, lê, ouve e vê com alguma criticidade.  Imagine aqueles que nem tempo tem para pensar.

Recorrer à Justiça? Primeiro, ela nunca fará, como nunca fez, a reposição justa por um dano causado pelo desproporcional poder midiático. A notícia irresponsavelmente dada, sem a apuração profissional da cartilha jornalística, não tem o seu desmanche garantido, mesmo que desminta em igual tamanho e lugar. Nem há dinheiro que pague uma difamação, uma calúnia, um dano moral. E veja que a não apuração tem sido a tônica mundial, com reclamos que vão de Obama a Chávez. Em segundo lugar, os donos da Justiça têm o mesmo DNA que os donos da comunicação, no mundo inteiro.

Imagine o estrago que fazem, em escala mundial, os meios de comunicação que, como você bem diz, “pode criar heróis ou bandidos, levar uma pessoa ao sucesso ou apeá-la dele, santificar ou satanizar grupos ou indivíduos”. E quem são os donos dessa mídia pós-derrocada da União Soviética, num mundo não mais bipolar? Hoje, o partido único, que você tanto teme, tem sede em Washington. E quando falo de partido, estou falando do Mercado, do deus-mercado. Mas, também poderia estar falando de único partido no poder nos EUA. Ou os Democratas e Republicanos têm alguma diferenciação ideológica entre si?
A guerra e a arrogância de Obama são diferentes ou mais amenas do que a de Bush? Diminuíram ou aumentaram os esforços da guerra imperialista de ocupação e de alteração da geopolítica mundial? Aumentaram ou diminuíram os poderes dos órgãos multipolares que garantiam certo equilíbrio, certa limitação ao insaciável expansionismo bélico de Washington?

Diante de tanto poder, é desprezível a discussão sobre uma pretensa limitação da mídia na Venezuela. Recorrentes divulgações da imprensa brasileira dizem que a imprensa de Caracas não pode se manifestar contra o governo. Os fatos históricos não são assim. Ali, a mídia privada, que é a grande maioria, pregou explicitamente durantes meses, diariamente, em todos os canais e em todos os horários, a deposição do governo. E a mídia conseguiu o golpe, apeando do poder o presidente eleito pelo voto democrático. Com ajuda de Washington, documentadamente. Veja (não deixe de ver) o vídeo “A revolução não será televisionada”², de cineastas irlandeses. Ou “A Guerra contra a Democracia”³, do premiado jornalista John Pilger. Não sejamos apressados, caro Marquinho, em julgar o processo venezuelano.

Tampouco não nos apressemos em crer, sem criticidade, os mitos e exageros adrede plantados em livros, jornais, cinemas, revistas, televisões, rádios, sobre os processos da antiga União Soviética, da Revolução Cultural chinesa, da Revolução Cubana ou do processo cambojano. Essa visão distorcida e recorrente tem um objetivo muito claro: esconder o outro lado da História. Uma cortina de fumaça esconde a verdadeira dimensão do nazismo, cujas cifras de extermínio, 6 milhões de judeus, são cotejadas com supostos 60 milhões de mortes creditadas a Stalin. A discussão do tema extermínio esconde as mortes praticadas contra a resistência de nações invadidas em sua soberania pelas guerras de expansão e de conquistas de bases militares e de petróleo.

Veja, caro Marquinho, que quando você fala de Hiroshima e Nagasaki, não por sua culpa, não aparece a assinatura na terrível obra macabra com que os Estados Unidos da América inauguraram  seus brinquedos de destruição em massa. Milhares de vidas destruídas de uma só vez, outras tantas condenadas a doenças fatais pelo resto de suas vidas. Até parece que foi fruto de uma fatalidade. Mas, não foi. Foi tio SAM quem cortou a fita simbólica da Era Nuclear. Hoje, EUA declaram ter 5 mil e tantas ogivas nucleares, fora as não contabilizadas, por não se submeterem ao crivo da AIEA. Falo das que Washington assiste “tecnicamente”, na Índia, no Paquistão, em Israel.

Por falar em Israel, Intifada é, do lado palestino, “A Guerra dos Botões”4, diante do despejar de mísseis judeus numa população de velhos, crianças e mulheres, encurralada no gueto de Gaza. Ou mísseis ianques nos povoados da Coréia, do Vietnã, antes, do Iraque, do Afeganistão, hoje.

E você sabe, caro Marquinho, de que lado estão os pouquíssimos donos de quase todos o meios de comunicação no mundo.

(1) http://boletimhsliberal.blogspot.com/search?updated-min=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2010-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=33

(2) http://www.google.com/url?q=http://www.youtube.com/watch%3Fv%3DaQu8ic0WRXo&source=video&vgc=rss&usg=AFQjCNGAnyXoOoAZ_6WE4hKLqmxEREfbvQ


(3) http://www.youtube.com/watch?v=zP1gBNjpshA


(4) Filme clássico do cinema francês, de um lirismo impressionante, dirigido por Yves Robert, em1962, baseado na obra do escritor francês Louis Pergaud, “La Guerre des Boutons” (1913).
Sidnei Liberal  - * Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

O Jurista e a luta de ideias

Instrumento contraditório
A sociedade atual se apresenta sob a hegemonia da classe capitalista. Nessa realidade o resultado do processo legislativo configura um ordenamento jurídico que tem por fundamento a manutenção das diferenças sociais – onde a propriedade privada dos meios de produção é um dos seus grandes pilares. O Estado se expressa através da lei, tendo na Constituição a síntese de seus objetivos. Os valores que se cristalizam na constituição servem, ao mesmo tempo, de fundamento e limitador para ação do Estado. Então nasce um ordenamento contraditório, pois nele encontraremos elementos que garantem a dominação da classe no poder, mas também encontraremos expressos nesse ordenamento os interesses dos extratos sociais que não detém o poder. O Estado não pode assumir seu lado de classe, deve parecer neutro perante a sociedade. Se manifestasse expressamente seu caráter de classe, perderia sua legitimidade para mediar as relações sociais. Aí reside o espaço que devemos explorar. É na contradição interna do ordenamento jurídico que os juristas vinculados aos interesses dos excluídos podem ajudar na luta de ideias.

Um exemplo concreto

Sou servidor do Poder Judiciário, numa comarca que atuei havia um processo de reintegração de posse, referente a uma área ocupada por 300 famílias. Já havia a determinação de reintegração em favor do proprietário, dada pelo juiz anterior. O oficial de justiça pediu ao magistrado o reforço da Brigada Militar para poder cumprir a ordem judicial. Minha função era elaborar uma proposta de decisão e apresentar ao magistrado. Não podia dar uma contra-ordem, pois o ordenamento jurídico estava ao lado do proprietário. Então, embasei meu parecer na dignidade da pessoa humana. Não discuti a propriedade, mas suspendi, por tempo indeterminado, a reintegração, até que o poder público propiciasse condições dignas para a saída daquelas famílias.

O direito do proprietário sobre a terra não podia ser retirado, pois ele estava sob o amparo do ordenamento jurídico, mas aquelas famílias tinham que ter sua dignidade respeitada, pois nosso ordenamento também defende esse princípio. Não existia propriedade que tirasse a dignidade dos ocupantes, não podiam ser “jogados pra fora” como queria o proprietário da área. Nesse conflito de direitos o Estado, mesmo na ordem capitalista, não pode simplesmente tomar o lado da propriedade. Porque a propriedade privada e a dignidade da pessoa humana estão no mesmo patamar jurídico, são preceitos constitucionais - servem de fundamento para a ação e limitação do Estado Brasileiro.

Na prática, a reintegração foi suspensa por quatro meses. Nesse ínterim, a comunidade se mobilizou e procurou a prefeitura e conseguiu a decretação da utilidade pública daquela área. No final, com o prazo que a decisão judicial propiciou, foi possível reverter todo o destino daquelas famílias. Todos permaneceram na área e hoje são os legítimos proprietários. Esse é só um exemplo, nosso ordenamento tem várias contradições, que se bem manejadas podem ajudar na garantia de direitos.

O papel do jurista

Ante um ordenamento jurídico contraditório e, em última instância, mantenedor do sistema capitalista, aqueles que operam com esse ordenamento têm função importante na luta de ideias, seja em favor dos excluídos ou contra eles.

O jurista pode ser um servo da lei, tornando-se, por consequência, um servo da manutenção do “status quo”. Entretanto, se for consciente de sua função, se parar para refletir quanto às contradições existentes na sociedade atual, pode se rebelar e se colocar a serviço da transformação social. Quando toma essa postura e se depara com uma lei injusta, deve revelar a todos os equívocos de tal lei, suas impossibilidades e aporias.

Os setores progressistas devem criar seus juristas - com o objetivo de disputar a hegemonia no campo do direito. O jurista, vinculado aos interesses das maiorias, deve defender e incorporar seus valores, mostrando sua universalidade e sua maior capacidade de incluir a maioria dos setores sociais junto ao seu projeto político. Deve ter uma atuação firme e forte, ajudando no enfrentamento das injustiças sociais impostas pelo Estado capitalista.

Direito e luta de ideias

Num país como o Brasil, que para ser entendido deve se ter em conta o conceito de revolução passiva, onde as transformações nunca se deram com uma ruptura única e definitiva, mas dentro de um processo, longo, contraditório e lento de transições. E onde o Estado sempre teve – e continua tendo - um papel decisivo no desenvolvimento econômico, político e social. Nenhuma tática política será eficaz se não incluir em seu campo de atuação a esfera jurídica como espaço de luta e de disputa de ideias.

Uma ordem social, para se consolidar, precisa de valores que a legitimem e que sirvam de base para a sua consolidação. Em dado momento histórico esses valores se cristalizam em instituições que corporificam tais valores e simbolizam o avanço social. Lembremos o que representou os Sovietes para luta socialista no século XX. Nesses momentos – quando os valores se corporificam em instituições -, as ideias ganham força e dão consistência às transformações sociais e políticas.

A luta de ideias é um campo de batalha importante para a transformação social. Precisamos ocupar espaço na luta de ideias no direito, dada a importância do campo jurídico na manutenção e transformação das relações de poder. O jurista foi um intelectual que ocupou um papel importante para a consolidação da ordem atual. Precisamos formar juristas que tenham uma relação estreita com os diversos movimentos sociais. Juristas orgânicos que incorporem as bandeiras desses lutadores, que deem um conteúdo político a essas bandeiras e direcione-as para a consolidação de valores sociais mais avançados. Valores esses que sirvam de justificação e legitimação para uma nova ordem política e social: o socialismo.

* Leandro Alves é Servidor do Poder Judiciário Gaúcho, ex-assessor Sindical, ex-assessor Parlamentar. E-mail: leandroalvesrs@hotmail.com

Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

A história de célia e bona barcia: ousar lutar, ousar filmar*

João Carlos Bona Garcia foi fundador do Partido Operário Comunista (POC) de Passo Fundo - RS, originado a partir da Política Operária (POLOP), no final da década de 1960.

 

Em 1970, membros do POC passaram a ação conjunta com organizações da guerrilha urbana. Neste contexto, militantes criaram a Unidade de Combate "Manoel Raimundo Soares" (UC/MRS),  homenagem ao sargento que apareceu morto em agosto de 1966, próximo a Ilha das Flores, boiando com os pés e mãos amarradas, após ter sido preso em março, panfleteando contra a Ditadura.

A UC/MRS passou a executar ações armadas com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), onde já militava Bona, como a tentativa de seqüestro de Curtis Carly Cutter, cônsul norte-americano em Porto Alegre, em 4 de abril de 1970. Dois dias antes, Irgeu João Menegon, Reinholdo Amadeu Klement, Bona Garcia e Luiz Carlos Dametto expropriaram um Volks do Banco do Brasil que transportava 65.000 cruzeiros da Companhia Ultragás, empresa presidida por Albert Boilesen, colaborador ativo da Operação Bandeirantes (OBAN).

Para Bona Garcia, a “tentativa de sequestro foi a causa do extermínio das organizações de luta armada no Rio Grande do Sul”, seguindo-se o uso sistemático da repressão. Bona foi preso em abril de 1970, em Porto Alegre, sendo levado para a DOPS, com sessões de tortura. Depois de um mês, foi destinado ao Presídio Central e para a Ilha do Presídio da Ilha.

Em 13 de janeiro de 1971, Bona Garcia foi um dos 70 presos políticos trocados pelo Embaixador da Suíça, Giovanni Enrico Bucher, sequestrado pela VPR, numa operação de Carlos Lamarca e de Devanir José de Carvalho, do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Banidos do Brasil, o grupo dos 70 foi para Santiago do Chile, durante o governo socialista de Salvador Allende.

Do Chile, Bona Garcia escreveu carta a Célia, a quem conhecera aos 15 anos, iniciando o namoro pouco depois de ela mudar de Restinga Seca, a terra do pintor Iberê Camargo, para Passo Fundo, em 1966. Célia foi para o Chile, em junho de 1971. No Chile, o nascimento do filho Rodrigo, em 1973. Porém, depois de uma viagem a Argélia para uma reunião da VPR, aconteceu o Golpe de 11 de setembro. A saída do Chile era inevitável. Seu cunhado Leopoldo conseguir a ida de um padre ao Chile, que retirou Célia e Rodrigo. Após, Bona conseguiu uma entrada cinematográfica na Embaixada da Argentina, com a Buenos Aires.

Na Argentina, surgiu a ideia do exílio na Argélia com a ajuda de Miguel Arraes. Lá, o nascimento de Luciano. Posteriormente, no final de 1974, a França e em seguida a atuação no Comitê Brasileiro pela Anistia, com “gente do MDB, do PC, do PCdoB, do PCBR, da VAR, da ALN, trotskistas, até de um  novo movimento criado no exterior , o OMO”, antes da volta ao Brasil e a Passo Fundo, em 1979. Depois disso, como disse em Verás que um filho teu não foge à luta, o retorno à política, a sua parte para o “fortalecimento da democracia”.

Esta trajetória pode ser vista no filme Em teu nome, de Paulo Nascimento. O diretor e roteirista ganhou o kikito de melhor direção no 37º Festival de Gramado, em 2009.

Filmado no Brasil, na França, no Marrocos e no Chile, Em teu nome aborda a transformação pessoal de militantes e exilados políticos, a primeira grande película sobre a resistência à Ditadura no Rio Grande do Sul.

As licenças poéticas do excepcional roteiro não tiram o fundo histórico em que a obra se inspirou. Com um engajado humanismo, traz à tela uma versão ousadamente filmada, um extraordinário momento do cinema político rio-grandense.

Paulo Nascimento abre os arquivos da memória contra o esquecimento, disputa por uma verdade reivindicada na poesia de Thiago de Mello, poeta que Recebeu o Grupo dos 70, no Chile: “Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras”.

* Este artigo foi publicado em versão ampliada, com o título “Ousar lutar, ousar filmar”, no Caderno Mix – Ideias, do Diário de Santa Maria, edição de 29.30/05/2010, p. 10-11.
** Professor Adjunto do Departamento de História da UFSM, Doutor em História Social do Trabalho.

Fontes:
- BONA GARCIA, João Carlos; POSENATO, Júlio. Verás que um filho teu não foge à luta. Porto Alegre: Posenato Artes e Cultura, 1989.
- Em teu nome. Direção: Paulo Nascimento. Ficção, Brasil, 2009, 100', Accorde Filmes.
- MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem (Ato Institucional Permanente). Poema.


Diorge Konrad
Doutor em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Professor Adjunto de História do Brasil e de Teoria da História do Departamento de História da UFSM - RS
 Site:  http://www.vermelho.org.br/coluna

Nunca está só quem não tem boas memórias para recordar

Em 2009, pessoas que moravam sozinhas eram 30% na Inglaterra; 25% nos EUA (em Nova York, chegavam a 50%); e 11% no Brasil. NO ENTANTO, SOLTEIROS SERIAM MAIS PROPENSOS A DOENÇAS

 

Uma tendência a partir da década de 80 nos países de cultura europeia é a moradia unipessoal, hoje um fenômeno social mundial. Argumenta-se que o aumento da expectativa de vida criou condições para que uma população com mais pessoas idosas morasse sozinha. Depois virou um estilo de vida de jovens que conseguiam se sustentar, fora de suas casas de origem, demolindo o mito de que morar só é um sofrimento.

Em 2009, a taxa de pessoas que moravam sozinhas era de 30% na Inglaterra; 25% nos Estados Unidos, mas em Nova York chegava a 50,6%; e de 11% no Brasil, onde a maioria das pessoas que moram sozinhas é de pessoas mais velhas - cerca de 40% com mais de 60 anos. Na cultura brasileira, um homem morar sozinho não é tão estranho quanto uma mulher. Se para o homem é uma opção, para a mulher é "encalhe", daí o estigma de mal-amada e enjeitada que ficou no caritó. Lembra da música: "Oi, bota pó, Vitalina tire o pó, moça velha não sai mais do caritó"? Era a imagem do inferno!

Eu morria de medo de ficar no caritó, explicado na crônica "Vitalinas", por Rachel de Queiroz: "Caritó é a pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo e o cachimbo. Vitalina, conforme a popularizou a cantiga, é a solteirona, a moça velha que se enfeita - bota pó e tira pó -, mas não encontra marido. E assim a Vitalina que ficou no caritó é como quem diz que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta" ("O Cruzeiro", 19.9.1959).

Dados científicos atuais demonstram que o caritó, como significado de solteirice, adoece é os homens! Recente estudo da Universidade de Cornell (EUA) constatou que pessoas idosas que moram sozinhas, sem vínculos com a família e nem com amigos, são propensas a doenças físicas e mentais. Barbara Bartlein, autora de "Why Did I Marry You Anyway?", diz que tudo indica que os homens se beneficiam mais do casamento do que as mulheres, embora a expectativa de vida das mulheres seja maior no mundo.

A taxa de mortalidade de solteiros é 250% mais elevada, por todas as causas de morte, do que a dos casados; os solteiros consomem bebidas alcoólicas duas vezes mais que os casados; e que no caso de câncer os casados tendem a ter melhores taxas de recuperação.

Pesquisa da Universidade de Tel Aviv (Israel, 2010), com mais de 10 mil funcionários públicos israelenses, acompanhados por 34 anos, comparando solteiros com casados na década de 60, concluiu que homens que relataram serem felizes no casamento correm menos risco de acidente vascular cerebral fatal do que os solteiros e os infelizes no casamento, que apresentaram 64% mais chances de um "derrame fatal".

Estudo da Universidade de Otago (Nova Zelândia, 2010), com mais de 34 mil pessoas de 15 países, concluiu que "o fim de um casamento, seja pelo divórcio ou por morte do cônjuge, está associado a um aumento nos riscos de distúrbios de saúde mental, com as mulheres sendo mais propensas a abusar de drogas - incluindo álcool e medicamentos -, e os homens a se tornarem depressivos; e que homens casados correm menos riscos de problemas com ansiedade e depressão do que os solteiros".

Morar só é o mesmo que viver em solidão? Solidão é sinônimo de sofrimento? Por entender que quem tem memórias prazerosas para recordar nunca está só, vejo a solidão como um estado mental, prazeroso ou não, que independe de companhia presencial.
Fatima Oliveira *
Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005. 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

 Livro: "Luta, Substantivo Feminino."

O livro traz a história de mulheres torturadas e mortas na ditadura Militar

 

Com relatos como o da jornalista Rose Nogueira, torturada durante o regime militar, o livro "Luta, Substantivo Feminino." A publicação reúne ainda os perfis de 45 mulheres assassinadas e desaparecidas por agentes da ditadura militar no Brasil (1964-1985).

 

Pelo relato de Rose, tem-se uma ideia do que as mulheres sofreram no período. "No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’ Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu filho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro.”

Essas são as frases da jornalista que constam no livro, cujo lançamento teve a participação dos ministros Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, no auditório da Pontífica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

"Este livro é o que chamo de terceiro filho do Direito à Memória e à Verdade, lançado pelo presidente Lula, em 2007. Há muitos enfoques a serem completados sobre a ditadura militar e o da mulher era um deles", disse Vanucchi.

Para Nilcéia, o livro é "mais um elemento para deixar o passado vivo e , assim, construirmos um presente e um futuro sem temores". "A impressão que tenho lendo os livros de história é que este país foi construído apenas pelos homens. Este livro resgata a contribuição das mulheres para reconquistar a liberdade e na reconstrução da democracia brasileira", completou a ministra.

Com tiragem inicial de 2,5 mil exemplares, a publicação reúne os perfis de 45 mulheres assassinadas e desaparecidas por agentes da ditadura militar no Brasil (1964-1985), cujos casos foram julgados pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos em 15 anos de atividade. A obra ainda traz informações sobre as circunstâncias em que essas mortes e desaparecimentos ocorreram.

Em praticamente todos os casos relatados, as vítimas morreram em decorrência das torturas, foram executadas ou passaram a ter seu destino desconhecido por seus familiares e amigos. Para não deixar que tais horrores caiam no esquecimento e contribuir para a elucidação desse terrível episódio de nossa história, o livro Luta, substantivo feminino apresenta também depoimentos corajosos de 27 mulheres que sobreviveram às torturas.

No seu discurso, Vannuchi comentou que, apesar de ter sido barbaramente torturada no período militar, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ficou de fora do livro para "evitar qualquer comentário de que a publicação tenha conotações políticas". No auditório da PUC, o ministro pronunciou o nome de algumas das sobreviventes cujos depoimentos estão no livro e todas foram aplaudidas de pé pelos estudantes.

"Estou muito feliz em ver que a geração de vocês vê a ditadura com um olhar de história, e não carrega as duras marcas que a minha geração tem, e está aqui hoje, prestigiando o evento", disse Vannuchi.

A secretária de Políticas das Mulheres disse ainda que tinha a "esperança renovada toda vez que venho à uma universidade e vejo a juventude comprometida com o futuro".

A estudante do quinto ano de direito da PUC, Graziela Santos, foi ao evento e disse que há muito tempo não via o auditório lotado como hoje no lançamento do livro. "Semana passada, teve um evento internacional com apenas dez pessoas", disse. A aluna, que está estudando a questão da tortura sob a orientação de um professor de direitos humanos, comentou que acha importante a publicação de livros como este. "Os torturadores sempre vão existir, é por isso que precisamos nos fortalecer como um Estado democrático de Direito".
Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

Minas Gerais: unidade pró Dilma, problemas para Serra

 
Minas Gerais foi cenário, nesta terça feira (dia 6) de dois acontecimentos reveladores dos rumos da campanha presidencial faltando apenas um mês para a abertura oficial da caça ao voto (que ocorrerá em 6 de julho).

Em Belo Horizonte, o PT, o PMDB e os partidos da base do governo anunciaram a unidade em torno da candidatura do peemedebista Hélio Costa para o governo do Estado, com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) para o Senado, e a possibilidade do ex-ministro Patrus Ananias para vice-governador.

Em Montes Claros, no norte do Estado, o candidato da oposição, o tucano José Serra, tentou exibir uma esquálida musculatura em visita à cidade, com o ex-governador Aécio Neves a tiracolo.

A festa em Belo Horizonte encerra um período de negociações que se acentuaram em maio e culminaram na unidade da base lulista para ganhar o governo estadual e fortalecer Dilma Rousseff entre os mineiros. Base formada pelas forças que governam, hoje, com o presidente Lula e que, com certeza, continuarão no Palácio do Planalto com Dilma. Seu núcleo é formado pelo conjunto das forças democráticas, progressistas e nacionalistas, articuladas em torno do programa de mudanças que a pré-candidata sintetizou na expressão “avançar, avançar e avançar”, bandeira que mobiliza corações e mentes dos brasileiros. E é a viga mestra da coesão para um novo período presidencial e para o protagonismo dos trabalhadores e do movimento social para garantir a continuidade e o avanço nas mudanças.

A chapa anunciada em Minas resultou de um caminho árduo em que a ala petista partidária da candidatura própria ao governo do Estado precisou ser convencida da unidade em torno de Hélio Costa. Os embates, naturais na construção de caminhos comuns entre forças políticas aliadas mas diversas, como o PT e o PMDB, foram (e são) explorados pela mídia ligada ao tucanato, que insiste em intrigas para minimizar a unidade que fortalece o campo lulista em Minas.

Eles não tem outro caminho. O epicentro das enormes dificuldades que o oposicionista José Serra enfrenta está justamente no estado que foi governado por Aécio Neves. A primeira delas foi o fim do sonho de ter o neto de Tancredo Neves como vice de Serra, que os tucanos consideravam fundamental para fortalecer sua pré-candidatura.

Quando ficou claro que Aécio não seria a "mão do gato" nessa empreitada, a lista dos problemas de José Serra escalou uma montanha (mineira?), e os próprios comentaristas tucanos na mídia falam em tensão na campanha oposicionista, onde teria se instalado uma crise de confiança entre os cardeais emplumados.

O encontro de Montes Claros, que a mídia tentou apresentar com cores festivas, escondia um tacape. Quem "não estiver com Serra sai do PSDB", ameaçou o ex-governador Aécio Neves, ecoando a realidade adversa de que o bloco demotucano perdeu o apoio de um terço dos prefeitos que controla. Minas tem 853 municípios, dos quais 256 tem prefeitos do PSDB, do DEM e do PPS. Destes, 79 apoiam Dilma Rousseff ou estão indecisos. Aécio vai recuperar seu apoio a José Serra com ameaças? Reconstruir a unidade pela força? Não parece possível.

A unidade alcançada em torno de Dilma é mais sólida, apesar dos percalços. Foi o próprio Fernando Pimentel que anunciou, via internet, o acerto em torno da candidatura peemedebista de Hélio Costa. "Prevalece o acordo nacional PMDB-PT. Agora é unidade na campanha e energia pra ganhar em Minas e no Brasil", afirmou. O pré-candidato peemedebista seguiu o mesmo tom ao reconhecer que, unidos, PT e PMDB podem ganhar o governo mineiro. "Separadamente, lamentavelmente, não haveria muitas condições de vitória", disse Hélio Costa.

E a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), que saudou o anúncio declarando que esta fase está superada, apontou o que há ainda por fazer: "completar a chapa majoritária incorporando o conjunto dos partidos que integram a base".
 
Fonte: http://www.vermelho.org.br/editorial

Pega, ladrão!

Dilma cresce 5 pontos e Serra cai 3 entre abril e maio, diz Ibope

 

Esta tem sido a forma como nossa mídia divulga os resultados das pesquisas nos últimos tempos. Ela dá ao eleitor/leitor certa medida da tendência do momento entre os candidatos. Uma chamada como“Dilma empata com Serra”, poderia ser a alternativa à idéia de movimento. No entanto, os principais jornais do país coincidentemente preferiram algo como “Continua o empate entre Serra e Dilma”. Essa forma passa a ideia que nada mudou e que, consequentemente, os resultados dos esforços de campanha dos dois candidatos são absolutamente iguais. No caso de Serra, facilitado pelos 75% usados na propaganda partidária do DEM(o) veiculada em rede nacional, no período.

A troca, que forneceu “argumentos” aos “especialistas/analistas”, da Folha, Estadão, O Globo e Veja, partiu de equivocada comparação dos dados do Ibope com os resultados de recente pesquisa do Datafolha. Equivocada em dois sentidos. Primeiro, porque aproxima no tempo uma e outra pesquisa, o que tende a mostrar resultados próximos. Segundo, porque cada instituto de pesquisas utiliza critérios técnicos de amostragem e de consolidação próprios, o que muitas vezes mostra resultados diferentes. Mas, as distorções provocadas pela forma de divulgação das pesquisas não param por aí.

Sobre a tendência dos candidatos nas diversas regiões do País, os jornalões preferem mostrar, estaticamente, a situação dos candidatos. Assim, Serra está à frente da petista no Sudeste e no Sul, enquanto Dilma supera o tucano nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essa forma, não mostra que a candidatura Dilma cresceu, em relação à ultima pesquisa Ibope, nas cinco regiões brasileiras. Nem diz que Serra caiu em todas elas. Tentativas de manipulação? Coincidência? No entanto, os últimos resultados do Vox Populi, desta segunda-feira (07), desmoralizam a tese do congelamento. O instituto mostra a candidata governista ultrapassando o patamar de 40 pontos. Serra cai a 35. A informação é do Radar-On-line¹, da revista Veja

Deputado tucano monta fábrica de dossiê contra PMDB

Esta manchete poderia perfeitamente substituir aquela que nossos zelosos jornalões unanimemente divulgaram neste fim de semana. Pensando em favorecer Serra, puxaram a ponta de um pavio que pode até detonar a candidatura tucana. É que o grupo do deputado tucano, delegado licenciado, Marcelo Itagiba, do PSDB-RJ, conforme divulgado no Correio Braziliense², montou em 2002 uma usina de arapongagem a serviço do então ministro José Serra. Dinheiro grosso (R$ 1,8 milhão) do Ministério da Saúde. Este mesmo grupo, depois de bisbilhotar Aécio, Dilma e Ciro Gomes, segundo o jornalista Amaury Ribeiro Júnior³, está, hoje, levantando dossiês contra eminências do PMDB, partido que vai indicar o vice na chapa de Dilma Rousseff.

A entrevista que Amaury deu à Folha de São Paulo4, desta segunda-feira, mostra outra má notícia para a campanha de oposição: não passa de um irresponsável factóide a denúncia tucana de que o comando da campanha de Dilma encomendou um dossiê contra Serra. A senha do factóide foi o desencontro das declarações do ex-delegado Onésimo de Sousa e do ex-sargento Idalberto Matias de Araújo à revista Veja e ao jornal O Estado de S. Paulo. Antigo participante da usina de dossiês de Itagiba, Onésimo se ofereceu a Luiz Lanzetta para bisbilhotar o trabalho do ex-companheiro Itagiba contra o PMDB. Lanzetta é dono da empresa que contrata mão-de-obra para a campanha de Dilma.

O ansioso bate-cabeça dos jornais levou o candidato tucano a responsabilizar Dilma por “produzir um novo dossiê anti-tucano”. Interpelado judicialmente pela direção do PT sobre a irresponsável acusação, Serra já adiantou (Folha de São Paulo desta terça-feira) sua resposta: “quem tem que dar explicação é a candidata”. Simples, não? Razões ao jornalista Luiz Carlos Azenha: “Serra bate a carteira e grita: pega ladrão!”

Sidnei Liberal

Médico, membro da Direção do PCdoB – DFFonte: http://www.vermelho.org.br/coluna

 Fidel Castro: No limiar da tragédia

Desde o dia 26 de março, nem Obama nem o Presidente da Coreia do Sul têm podido explicar o que realmente aconteceu com o navio insígnia da Marinha de Guerra sul-coreana - o moderníssimo caça-submarino Cheonan, que participava de uma manobra com a Armada dos Estados Unidos ao oeste da Península da Coreia, próximo aos limites das duas Repúblicas -, deixando 46 mortos e dezenas de feridos.

         Por Fidel Castro, em Portal Cuba        

 
O embaraçoso para o império é que seu aliado conheça, de fontes fidedignas, que o navio foi afundado pelos Estados Unidos. Não existe maneira de eludir esse fato que os acompanhará como uma sombra.

Em outra parte do mundo, as circunstâncias se ajustam igualmente a fatos muito mais perigosos que os do Leste da Ásia e que não podem deixar de acontecer sem que a superpotência imperial consiga formas de evitá-los.

Israel não se absteria de ativar e usar, com total independência, o considerável poder nuclear criado nesse país pelos Estados Unidos. Pensar de outra maneira é ignorar a realidade.

Outro assunto muito grave é que as Nações Unidas tampouco têm alguma maneira de mudar o curso dos acontecimentos e muito em breve os ultra-reacionários que governam Israel se chocarão com a indomável resistência do Irã, uma nação de mais de 70 milhões de habitantes e de conhecidas tradições religiosas que não aceitará as ameaças insolentes de nenhum adversário.

Em duas palavras: o Irã não cederá perante as ameaças de Israel.

Os habitantes do mundo, logicamente, desfrutam cada vez mais dos grandes acontecimentos esportivos, aqueles relacionados com o divertimento, a cultura e outros que ocupam seus limitados espaços de lazer, no meio dos deveres que lhes ocupam grande parte de seu tempo dedicado aos afazeres cotidianos.

Nos próximos dias, o Campeonato Mundial de Futebol que acontecerá na África do Sul lhes arrebatará todas as horas livres de seu tempo. Com crescente emoção, acompanharão as vicissitudes das personagens mais conhecidas. Observarão cada passo de Maradona e não deixarão de lembrar o instante do espetacular gol que decidiu a vitória da Argentina num dos clássicos.

Novamente outro argentino vem surgindo espetacularmente, de estatura baixa, mas veloz, que aparece como raio e, com as pernas ou a cabeça, dispara a bola à velocidade insólita. Seu sobrenome: Messi, de origem italiana, já é bem conhecido e mencionado por todos os fanáticos.

A imaginação deles é levada até o delírio quando chegam as imagens dos numerosos estádios onde ocorrerão as competições. Os projetistas e arquitetos criaram obras jamais sonhadas pelo público.

Aos governos que sempre estão reunidos para cumprir as obrigações que a nova época impôs sobre seus ombros, o tempo é curto para conhecerem a imensa quantidade de notícias que a televisão, o rádio e a imprensa escrita divulgam constantemente.

Quase tudo depende exclusivamente da informação que recebem dos seus assessores. Alguns dos mais poderosos e importantes Chefes de Estado, que tomam as decisões fundamentais, costumam usar os telefones celulares para se comunicar diariamente entre eles várias vezes.

Um número crescente de milhões de pessoas no mundo vive apegado a esses pequenos aparelhos sem que ninguém saiba qual o efeito que terão na saúde humana. Dilui-se a inveja que deveríamos sentir por não ter desfrutado dessas possibilidades em nossa época, que se afasta pela sua vez velozmente em muito poucos anos e quase sem dar-nos conta.

Ontem, em meio à voragem, foi publicado que possivelmente hoje Conselho da Segurança das Nações Unidas poderia votar uma resolução pendente para decidir se é imposta uma quarta rodada de sanções ao Irā, por negar-se a parar o enriquecimento do urânio.

O irônico desta situação é que se fosse Israel, os Estados Unidos da América e seus aliados mais próximos diriam logo que Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e vetariam a resolução.

No entanto, se o Irã é acusado simplesmente de produzir urânio enriquecido até 20%, é solicitada imediatamente a aplicação de sanções econômicas para asfixiá-lo e é óbvio que Israel atuaria como sempre, com fanatismo fascista, igual como fizeram com os soldados das tropas de elite lançados de helicópteros, em horas da madrugada, sobre os que viajavam na flotilha solidária, que transportava alimentos para a população sitiada em Gaza, matando várias pessoas e ferindo dezenas que foram depois presas juntamente com os tripulantes das embarcações.

Logicamente tentarão destruir as instalações onde o Irã enriquece uma parte do urânio que produz. Também é lógico que o Irã não se conformará com esse tratamento desigual.

As conseqüências dos enredos imperiais dos Estados Unidos poderiam ser catastróficas e afetariam a todos os habitantes do planeta, ainda mais do que todas as crises econômicas juntas.

Fidel Castro
8 de Junho de 2010

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crise, eleições e partidos

Em meio a um extraordinário vendaval financeiro internacional o Brasil resiste, demonstra vigor econômico e mantém uma perspectiva de crescimento de mais de 6% do seu PIB ainda este ano, exatamente o ano em que a crise atinge a Europa em cheio como uma bomba.

Mas é preciso que o País adote medidas de precaução em relação ao nebuloso cenário mundial. Um quadro de grandes instabilidades econômicas e uma perigosa sucessão de conflitos geopolíticos provocados pela resistência, que se amplia, de vários povos à diplomacia de porrete dos Estados Unidos da América.

A política externa dos EUA mais parece com as atitudes de uma pessoa em crise e descompensada, seguida de perto pelas recentes e violentas agressões do seu aliado incondicional no Oriente Médio, o Estado de Israel. Como se não bastassem os episódios do navio afundado entre as Coréias, a preparação midiática de um ataque anunciado contra o Irã.

Ora, esse cenário não é brincadeira porque mistura tensão militar com econômica em altas proporções e que são suficientes para concluirmos que há no ar cheiro de nitroglicerina pura.

É nesse contexto que o Brasil deve adotar todas as medidas cautelares necessárias a fim de proteger o crescimento econômico tendo como um dos seus pilares o substancial mercado interno, um dos responsáveis fundamentais para que a nação venha atravessando a tempestade em pleno ritmo de economia vitoriosa.

E como não há economia sem subordinação às orientações políticas, a opinião pública nacional, vale dizer, os eleitores brasileiros, estão muito bem atentos ao grau de responsabilidade e competência do governo Lula.

Porque o País e a sua administração estão sendo submetidos a duras provas de resistência e vêm se conduzindo com êxito inquestionável.

A resistência do presidente da República em implementar, no auge da crise, medidas recessivas cobradas pela grande mídia global, semelhantes àquelas implementadas por todos os dois governos FHC, mostrou-se acertada.

E não apenas justas, mas estrategicamente distintas e antagônicas, como políticas econômicas, da linha neoliberal de FHC, e do seu candidato o senhor José Serra.

No andar dessa carruagem será praticamente inevitável o crescimento da senhora Dilma Rousseff como também o declínio do candidato tucano. A outra questão é que não há a menor dúvida sobre o caráter plebiscitário destas eleições. Assim como o futuro incerto de alguns partidos.

Eduardo Bomfim * * Advogado, Secretário de Cultura de Maceió - AL

Fonte: http://www.vermelho.org.br