quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cuidado com as filhas de Obama

Quem advertiu foi o próprio presidente. Malia e Sasha são duas bonitas meninas que completam 11 e 9 anos. Elas têm em Michelle e em Barack um duplo arsenal genético para serem no futuro muito elegantes. Mas, parece que ainda são duas diabinhas, a julgar pela bricadeira que Obama fez, num jantar público, para alguém que se aproximava de suas filhas: "Tenho duas palavras para vocês: zangões predadores".


Foto: Julilanne Showalter (Reuters)  
 
Era uma referência à mais nova arma de extermínio do império que ele governa: o veículo aéreo não tripulado, os aviões zangões da CIA, que vêm realizando operações de assassinato no Afeganistão e no Paquistão. Também já foram usados no Iêmen e na Somália, segundo reportagem especial da Reuters¹, publicada no Huffington Post, sob o sugestivo título de "Como a Casa Branca aprendeu a amar o programa de aviões zangões da CIA".

Mais que uma banalização dos assassinatos, a permanente exibição desses zangões representam a velha arrogância da cultura do poder nos EUA, daquelas que os caubóis de Hollywood materializavam em suas pistolas e botas cravejadas de prata, diante do povoado assustado. A mesma arrogância das ameaças de autoridades da Casa Branca, mostrada no Estadão² desta terça-feira: “O Brasil está desperdiçando toda a boa vontade dos EUA... Se o acordo for usado por outros países para adiar as sanções, isso vai prejudicar Brasil e a Turquia nos EUA”.

 “O acordo não muda as medidas que estamos adotando para que o Irã cumpra suas obrigações, incluindo sanções”, disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Uma arrogância que bate de frente com a receptividade do Financial Times³, que em editorial apoiou o acordo como uma saída para o impasse com o Irã. Ou com a observação do Council on Foreign Relations4, de NY, a instituição mais influente sobre a política externa dos EUA, para quem o acordo “põe EUA e seus parceiros europeus em situação difícil”, mas “afinal, receber bem a troca de combustível anunciada pode ser a escolha certa para os EUA”.

O analista David Rothkopf, da Foreign Policy5, avalia que o acordo pode ter derrubado anos de decisão bilateral entre EUA e União Soviética e depois EUA e a “comunidade internacional”, no conflito para definir os rumos da região. O acordo Brasil/Turquia/Irã também foi reconhecido por setores brasileiros que costumam ser críticos à nossa política externa, como a Folha de S Paulo6, em editorial nesta terça-feira. Como o ex-ministro Rubens Ricupero, em entrevista ao portal Terra Magazine7, e como o jornalista Jânio de Freitas8, para quem “Já se pode considerar que Lula e a sua equipe de relações externas fizeram no Irã um trabalho positivo para o Brasil”.

Em editorial nesta terça-feira The Guardian9 também caminha na contramão da arrogância de EUA e “comunidade internacional”. O sóbrio jornal britânico disse que o rascunho de sanções preparado contra o Irã “pode ser visto como um tapa das grandes potências nos esforços de negociação de outros países”. E aconselhou: “porém, neste mundo multipolar, Obama não pode se permitir tal coisa”. O jornal também elogiou Turquia e Brasil e lembrou o Japão: “juntas, essas nações assumiram o papel de negociador honesto abandonado por Inglaterra, França e Alemanha”, disse The Guardian.

Na mesma contramão, Roger Cohen, do New York Times10, lamenta que Brasil e Turquia tenha sido esnobados depois de “responderam ao chamado de Obama por uma nova era de responsabilidades compartilhada”. Para Cohen, os EUA não conseguem mais "impor soluções" às crises globais e sua reação ao acordo em Teerã "não fez nenhum sentido". Também o francês Le Monde11, em editorial desta quinta-feira, destaca as atuações de Brasil e Turquia que, depois de sucessos nos temas ambiental e comercial, marcaram uma nova etapa. “Os livros de história vão guardar esta data, 17 de maio, quando o Brasil e a Turquia propuseram à ONU o acordo negociado com Teerã”.

Se os zangões predadores de Obama deixarem.

(1) http://www.reuters.com/article/idUSTRE64H5SL20100518

(2) http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100518/not_imp553182,0.php

(3) http://www.ft.com/cms/s/0/9304584a-61e2-11df-998c-00144feab49a.html

(4) http://www.cfr.org/publication/22144/irans_sketchy_uranium_deal.html

(5) http://rothkopf.foreignpolicy.com/posts/2010/05/17/the_return_of_plan_b_emerging_power_diplomacy_in_the_middle_east

(6) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905201001.htm

(7) http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4435512-EI6578,00-Lula+merece+aplausos+opina+Ricupero+sobre+acordo+com+Ira.html

(8) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1805201005.htm

(9) http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/may/19/iran-nuclear-processing-un-sanctions

(10) http://www.nytimes.com/2010/05/21/opinion/21iht-edcohen.html

(11) http://www.lemonde.fr/opinions/article/2010/05/19/nucleaire-iranien-le-sud-emergent-veut-sa-place-dans-la-negociation_1353888_3232.html

Sidnei Liberal  * Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

Fonte: Publicada 26 de Maio de 2010 - 0h02
http://www.vermelho.org.br/coluna