quinta-feira, 24 de setembro de 2009




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Walter Sorrentino: "lutamos por um socialismo brasileiro"

 Walter Sorrentino - debate das teses - setembro de 2009Na avaliação feita pelo secretário de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, o caminho para se alcançar esse terceiro salto civilizacional da história brasileira (o socialismo) depende da formação de quadros comprometidos com a linha partidária e que estabeleçam as ligações necessárias entre a direção e as bases. Para ele, sem uma eficiente política de quadros, “o partido viverá um impasse estrutural”.

A afirmação foi feita durante ciclo de debates ocorrido na sede do Comitê Central, em São Paulo, nos dias 14 e 15.
O evento reuniu lideranças comunistas que atuam nos movimentos sociais. Ele defendeu a valorização dos quadros partidários, essenciais para o que chamou de "luta por um socialismo brasileiro" que poderá ser alcançado por meio da implantação de um novo projeto nacional de desenvolvimento para o país.

Língua dissociada da realidade

Ao iniciar sua apresentação sobre política de quadros, Walter Sorrentino fez um breve histórico a respeito da concepção de partido comunista. Ele criticou o fato de muitas dessas organizações não terem levado em conta o contexto nacional de seus países ao buscar a implantação do socialismo. “Os partidos leninistas, fruto da 3ª Internacional – como o PCdoB – foram forjados em função desse pensamento estratégico e tal formato se tornou um paradigma absoluto e universal. Muitas vezes, eles falavam uma língua única, dissociada da realidade de seu país”.

A crítica do dirigente se atém principalmente ao fato de que todo processo de transformação social deve ser historicizado e adaptado às necessidades locais. “Essas formulações acabaram sendo transformadas em normas, que por sua vez tornaram-se cláusulas pétreas. E o tema “partido” tornou-se uma espécie de último reduto de renovação, gerando uma série de dogmatismos”.

Segundo ele, o tema partidário deve estar baseado em uma estratégia e não apenas na teoria. “Devemos organizar o partido para que cumpra uma estratégia, um programa e jamais a estratégia esteve tão amadurecida no seio do PCdoB. A nossa estratégia é combinar a luta democrática e social, patriótica, soberana e antiimperialista como a luta brasileira pelo socialismo; neste sentido, o novo projeto nacional de desenvolvimento é o caminho”.

Segundo sua formulação, o núcleo da estratégia do PCdoB é “alcançar a hegemonia” e o partido “é como um instrumento para construir um bloco político histórico que alcance a hegemonia, dentro do qual o PCdoB também atinja a sua liderança”. O objetivo é “fazer com que os trabalhadores sejam a classe dominante”.

Para isso, salientou, “é preciso um longo processo que engloba a luta política, social e de ideias, luta esta que se trava dentro e fora dos governos, nas ruas e nas academias, na cultura e nas ciências. Essa luta não pode recusar nenhum terreno”.

Dar conta dessa meta exige, conforme constatação do dirigente, “um partido grande, de massas e forte política e socialmente; precisa, em outras palavras, representar o nosso povo”. No partido, a base para se alcançar esse patamar deve ser formada essencialmente pela a consciência e a teoria marxista-leninista e o caráter classista e militante. “Um partido comunista de massas precisa de organicidade desde a base para ter coesão política. Se não, vira um bando de correligionários. Além disso, é preciso uma forte estrutura de quadros que será uma das pilastras dessa coesão e pré-condição para a governabilidade do partido”.

Centralidade da política de quadros

Dentro desse contexto, o documento apresentado por Walter Sorrentino segue estabelecendo a necessidade se investir numa política de quadros que tenha centralidade no projeto partidário. “Isso é uma exigência da vida partidária e não um luxo; política de quadros é a essência do partido”, destacou. Segundo ele, PCdoB é “um celeiro de quadros políticos”, porém há “muita inconstância e muitos não são fidelizados”.

O dirigente ressaltou que “o PCdoB vingou, cresceu e se desenvolveu mesmo com a crise do socialismo e isso é fruto desses militantes comprometidos. Mas precisamos de um novo modo de lidar com os quadros, de galvanizar compromissos. Precisamos de uma multidão de quadros, para liderar nossa luta na sociedade, unir a esquerda para unir o povo”. Ele chamou atenção dos militantes presentes ao debate para a necessidade de se quebrar dogmatismos. “Isso muitas vezes nos leva a querer encaixar a vida numa fórmula pré-determinada”.

Além do combate ao dogmatismo, Sorrentino enfatizou a necessidade de se combater o corporativismo, o liberalismo – “que leva a compromissos frouxos” – e o pragmatismo. “Podemos, com a continuidade do ciclo aberto por Lula, atingir mais de 400 mil membros. E como governa-los?”, questionou. A resposta, conforme afirmou, está no maior investimento nos quadros. “No Brasil, ainda somos muito pequenos. Precisamos crescer num contexto de desmoralização da política, dos partidos e da militância. Precisamos atravessar esse deserto sem desidratar”.

A resposta para esse desafio está, de acordo com o dirigente, nas propostas apresentadas pelo documento sobre política de quadros. Resumidamente, são três objetivos políticos essenciais: lidar com a formação da nova geração dirigente para os tempos atuais e para o futuro; garantir organicidade à militância partidária, com quadros intermediários para organizar o partido desde a base e absorver quadros que não estão na estrutura formal do partido e espalham-se por movimentos sociais variados, na academia, nas artes etc. “Somos um partido perene, secularizado, que não aparece só nas eleições e por isso precisa de militância. Temos de ter uma pauta e uma agenda concreta porque as bases não funcionam no abstrato”, afirmou.

No que tange a formação desses quadros, Sorrentino salientou que é necessário “fidelizar os quadros ao projeto do partido; valorizar a ligação com o partido por questão de consciência e não de moral e, mesmo considerando que somos um coletivo, atentar para as potencialidades individuais”. Os quadros, colocou, “precisam de renovação, de qualificação, de especialização e de representação junto à sociedade”.

Finalizando sua apresentação, Sorrentino concluiu: “mudanças de cultura político-organizativa levam tempo; são batalhas de ideias que se dão dentro do próprio partido. Mas, queremos um PCdoB grande, que se aventure nesse terreno da nova luta pelo socialismo e para isso, os quadros são essenciais”.


De São Paulo,
Priscila Lobregatte