quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Honduras: a diplomacia rancorosa da direita

A camarilha civil e militar que assaltou o poder em Honduras apostava que a demora na solução da crise política levaria a comunidade internacional a "esquecer" o problema. E que o processo eleitoral fajuto previsto para novembro "legitimaria" a presença de seu grupo político no poder. Mas o retorno inesperado do presidente Manuel Zelaya ao país jogou por terra os planos da oligarquia, que agora se sente ameaçada e acusa o Brasil de ingerência em assuntos internos pelo fato de Zelaya ter buscado abrigo na embaixada brasileira.

No Brasil, os golpistas têm apoio em setores da mídia e da direita que, não podendo fazer o que gostariam - defender abertamente os gorilas sob o risco de também serem tachados de golpistas - tentam qualificar a situação como fruto da política externa dirigida por Celso Amorim.

Mas os fatos não combinam com as versões da direita tupiniquim. O mais notório é o isolamento dos golpistas hondurenhos, que não são reconhecidos por ninguém em todo o mundo e enfrentam a exigência unânime pela volta imediata de Zelaya à presidência.

Diante desse isolamento, só mesmo os direitistas mais obtusos, saudosistas das ditaduras militares, defendem publicamente o golpe, ruminando um discurso anticomunista caduco, mas preocupante. Nesse sentido, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, tem razão ao acusar os que se opõe à conduta do Brasil no episódio como simpatizantes dos golpistas.

A oposição neoliberal alimenta, contra o governo Lula, um rancor sem fronteiras. Os oposicionistas não se preocupam se a bandeira nacional está sendo conspurcada no afrontoso cerco à nossa embaixada em Tegucigalpa. Não lhes comove o risco de uma guerra civil naquele país, nem se incomodam com as graves violações aos direitos humanos, típicas da direita, praticadas pelo governo golpista.

Tentar desgastar o governo Lula é o que importa para nossa direita troglodita. Chega a ser patético ver expoentes do PPS, como Roberto Freire e o deputado Raul Julgmann, ou os senadores tucanos Eduardo Azeredo e Arthur Virgílio, ou ex-diplomatas alinhados com Fernando Henrique Cardoso, atacando a postura do Brasil nesta crise. Parece que o problema não são os golpistas, mas o refúgio do presidente legítimo na embaixada brasileira em Honduras!

Os argumentos toscos da direita mal disfarçam a dor de cotovelo de uma elite que vê o governo do operário Lula assumir uma posição geopolítica jamais alcançada pelos governantes anteriores, principalmente sob FHC. Hoje, o Brasil é elogiado, ouvido e respeitado em todos os principais fóruns e organismos internacionais, e sua liderança reconhecida.

Sob Lula, a presença internacional do Brasil é muito diferente da época em que o chefe do Itamaraty aceitava tirar os sapatos para poder entrar nos Estados Unidos. É por privilegiar as relações sul-sul, especialmente com os países da América Latina, que o Brasil passou a ser apontado como liderança regional, cooperando com governos de caráter popular e progressista da região e rechaçando as velhas práticas imperiais e colonialistas que tanto mal causaram ao nosso continente.

É por reconhecer esta liderança qualificada que Zelaya buscou abrigo em nossa embaixada ao retornar ao seu país. O Brasil não reivindicou essa posição de peça chave no tabuleiro da crise hondurenha. Mas as circunstâncias fizeram com que isso acontecesse. E nossa diplomacia está agindo corretamente ao buscar amplo apoio internacional para ajudar a solucionar a crise no país centro-americano. Com a clareza de que a verdadeira resposta para a situação não depende do Brasil, nem de organismos internacionais, mas da vontade do povo hondurenho, espera-se que este tire proveito deste trágico episódio de sua história para fortalecer sua organização popular e suas instituições democráticas.


Editorial Vermelho